Versões rasas da América profunda
28/02/12 20:24PHOENIX, ARIZONA – Sem pensar um segundo, qual a primeira imagem do Arizona que te vem à cabeça?
A primeira, para mim, é areia (desculpem, filmes demais!). A segunda é um conjunto de leis anti-imigrantes duríssimo.
Agora estou aqui. Tem muita areia no ar, é muito seco, como eu imaginava. E as leis anti-imigrante são mesmo pesadas. Mas, ao contrário do que eu imaginava, o Estado com fama de ser o mais linha-dura do país não é assim mais tão radical.
“Sobretudo por causa da migração dos Estados do Oeste, somos cada vez mais moderados”, me disse o ex-jornalista e ex-assessor político Jack Lavelle, que se diz um “conservador das antigas”. Jack não tem dúvidas do que quer para os EUA, mas acha que radicalismo não leva a lugar nenhum.
A economia do Arizona não está nenhuma maravilha, mas está em muito melhor forma do que a de seus vizinhos liberais, Califórnia e Nevada. Por isso, vem recebendo nos últimos anos milhares de pessoas desses Estados. Segundo o Censo, das 39 mil pessoas que se mudaram para o Estado de 6,5 milhões no ano passado, 2/3 vieram de fora dos EUA, e 1/3 do próprio país.
O efeito tem sido, como o republicano Lavelle constatou, uma mudança no perfil político do Arizona.
As leis anti-imigrantes, em termos políticos, também pesaram. Mas do jeito contrtário ao que seus proponentes esperavam. Embora tenham disseminado medo entre os imigrantes sem documentos, levaram aqueles de segunda geração ou em situação regular a se organizarem politicamente. Os sindicatos, quase inexistentes no Arizona, começam a ganhar força.
Os conservadores moderados começam também a reclamar de uma certa fadiga do assunto, preferindo focar em problemas mais essenciais para o país, como os solavancos econômicos. Pesquisas no Estado mostram que a maioria defende a anistia para os imigrantes que já vivem aqui e pagam seus impostos em dia.
O senador local que propôs a lei _que permite à polícia parar qualque pessoa na rua, quase sempre com base em sua cor de pele ou traços físicos, e cobrar-lhes documentos sob ameaça de deportação_ foi tirado do cargo por eleições antecipadas. Seu sucessor é republicano, mas moderado.
Os arizonenses nascidos aqui ou imigrados, liberais ou conservadores, reclamam que a perseguição só lhes trouxe má fama no país, que os vê como intolerantes, e não melhorou a economia nem a política em nada.
Paradoxalmente, sem soluções melhores sobre como reformar de forma eficaz o sistema imigratório, os quatro pré-candidatos republicanos continuam a defender o modelo do Arizona para todo o país. (Alguém se lembra como Rick Perry, governador de outro Estado de fronteira, o Texas, foi escorraçado em um debate no qual tentou defender a anistia?)
O Arizona, para mim, é o território de Tex Willer, o chefe branco dos Navajos, o destemido ranger à frente do mais infernal quarteto de cascavéis de todo o Oeste. Se você torce pelos bandidos não leia Tex…há!há! É bang! Bang italiano! dos bons…
Antônio, essa é a imagem que eu tinha da fronteira. 🙂 Acho que preciso de uma próxima etapa de reportagem lá. Abs!
Uma vez, como conservador, referindo-me ao movimento “Ocupe Wall Street”, enviei um twitter a Andrew Breitbart com a seguinte mensagem: “On TV, I saw one of these demonstrators holding a poster saying ‘ out with capitalism ‘, and, with the other, spoke to the cellphone, a symbol of capitalism itself.” Ele respondeu: “Perfect comparison. They are a bunch of hypocrites “!
Sua morte é uma grande perda para nós os conservadores, pois era um dos mais eficientes defensores de nossos valores e princípios. Que descanse em paz!
Professor Emilson Nunes Costa.
Professor, não acompanhava o Breitbart. Mas de fato a morte dele foi mutíssimo comentada aqui. Logo mais vou tentar escrever a respeito. Abs.
Pancho Villa, no imaginário popular mexicano, é tido como um criminoso bárbaro, como são atuais chefes dos cartéis mexicanos. Mas também, é tido como um herói vingador nacional por ter lutado contra os EUA que, a pretexto de defenderem propriedades de seus cidadãos em território mexicano, na mão grande, e mão grande armada até aos dentes, tomaram, anexaram 2/3 do território mexicano; e dentre estes territórios anexados, está o do território do Arizona.
Pois é, professor, estive em Phoenix e Tempe. Para as bandas da fronteira disseram que a coisa não é assim tão amigável. Arizona, Novo México, Texas…
A propósito, belo artigo este. Tem um claro caráter pedagógico. Parabéns!
Já que estamos aqui, vamos colocar um comentário nesse negócio. 🙂 Recordei aquele vintage com o Nicolas Cage, “Arizona nunca mais”. Clássico das madrugadas desocupadas. A mim me interessa a poeira do Arizona. Me amarro em observar lugares decadentes. São tão instrutivos pra quem sabe apreciá-los… O Brasil e o mundo inteiro estão repletos de lugares assim… Apesar do onipresente “Este é um país que vai pra frente”. E não confundam decadência com algo apenas relacionado à economia. A China com todo esse boom às vezes me parece tb um belo de um buraco.
Aqui em Santa Catarina sempre que tu entras numa cidadezinha tem alguma placa dizendo “uma cidade do século XXI”, “um orgulho que não pára de crescer”, “capital estadual da laranja pocã”. Isso sim é decadência! É o nada fantasiando-se de luxo. São lugares onde se morre devargazinho, apesar de toda a propaganda dizendo o contrário. Como disse, muito instrutivo! Abs!
Que bom, Silvino, concordamos então. Eu acho que se aprende muito sobre um país em lugares assim. Eu saio positivamente surpreendida. Abs.
O que significa o aviso “o seu endereço de email não será publicado” se ele continua aparecendo todos os dias? Fiz um único comentário no primeiro dia em que o repórter Samy Adghirni publicou seu artigo. Peço aos senhores que tomem as devidas providências para retirá-lo desta página. Obrigada.
Norma, vou checar o que está acontecendo. Não deveria ter sido publicado, mesmo.
Estamos muuuuuito interessados no que acontece no poeirente Estado dos EUA. Muito mesmo.
Beto, desenvolva. Assim eu descubro se é ironia ou não. 🙂
Era boa ideia não escorraçar o dicionário porque não se “escurraça” coisa nenhuma.
Rui, bem notado. Arrumei, desculpe. Abs.