Discutindo a relação, parte 2
01/03/12 11:21NOVA YORK – Segue a segunda parte da entrevista com o cientista político Paulo Afonso Velasco Júnior, da FGV e da Universidade Candido Mendes. A primeira parte está no post anterior.
FOLHA – Existe a crença de que republicanos são menos protecionistas, e que isso beneficiaria o Brasil. Entretanto, a sobretaxa ao álcool brasileiro caiu em governo democrata. O sr. acha que essa crença tem se mostrado real?
PAULO AFONSO VELASCO JÚNIOR – Embora possamos reconhecer que o partido democrata tem uma tendência mais protecionista, por conta de sua posição histórica e pela atuação de lobbies ligados às bases de apoio do partido, muitas vezes é mais importante analisar o Estado de origem do congressista para conhecer a sua orientação em matéria comercial. Se vier de Iowa (situado no coração do cinturão do milho), por exemplo, não importa se democrata ou republicano, fatalmente apoiará os subsídios agrícolas e a proteção ao produtor local.
Vale lembrar aliás, que na falta do TPA (Trade Promotion Authoritiy), ou “fast track” [alusão ao mecanismo utilizado pelo governo americano para agilizar a implementação de acordos], as negociações comerciais dependem mais da posição do Congresso do que da postura do executivo. Atualmente, o Congresso americano está bem dividido, com maioria republicana na Câmara de Representantes e maioria democrata no Senado. Foi o Congresso dos EUA que decidiu não prorrogar a sobretaxa sobre o etanol, sem ação direta do executivo democrata. A decisão também foi fortemente influenciada pelo desequilíbrio fiscal no país e pela necessidade de conter gastos, como, por exemplo, os bilionários subsídios aos agricultores americanos.
Como o sr. vê as perspectivas para as relações diplomáticas do Brasil e dos EUA a curto prazo? Deve haver mais aproximação?
Apesar das eventuais divergências em temas da agenda internacional, os Estados Unidos reconhecem um peso crescente do Brasil na cena internacional e isso certamente cria oportunidades para um adensamento do diálogo e das parecerias bilaterais. É verdade, contudo, que a relação com o Brasil ou com a América Latina está longe de ser prioritária para os EUA, como são as relações com a Ásia e, especificamente, China e Índia.
Cabe ao Brasil empenhar-se mais no diálogo com Washington, definindo de forma clara qual é o papel dos EUA na atual agenda da política externa brasileira. Apesar de sua crescente projeção no plano internacional, o Brasil tem uma presença muito limitada na capital norte-americana, estando ausente dos corredores do poder, seja da Casa Branca, seja do Congresso ou dos grupos lobistas. Até mesmo o número de diplomatas brasileiros lotados na embaixada em Washington está muito aquém das necessidades de um relacionamento entre duas potências importantes no mundo contemporâneo.
Dificilmente a visita de Dilma aos EUA no próximo mês de abril conseguirá conquistas significativas para o diálogo bilateral (ainda mais num ano eleitoral), mas pode contribuir para ampliar o interesse da sociedade, dos políticos e dos empresários do país de Obama em relação ao Brasil. Isso já seria um primeiro e decisivo passo para uma verdadeira e consistente aproximação nos próximos anos.
Eu customo ser diciplinado em comentar apenas o tema posto. Mas permita-me essa homenagem:
Uma vez, como conservador, referindo-me ao movimento “Ocupe Wall Street”, enviei um twitter a Andrew Breitbart com a seguinte mensagem: “On TV, I saw one of these demonstrators holding a poster saying ‘ out with capitalism ‘, and, with the other, spoke to the cellphone, a symbol of capitalism itself.” Ele respondeu: “Perfect comparison. They are a bunch of hypocrites “!
Sua morte é uma grande perda para nós os conservadores, pois era um dos mais eficientes defensores de nossos valores e princípios. Que descanse em paz!
Professor Emilson Nunes Costa.