Sarah Palin, o filme
11/03/12 16:03WASHINGTON – Estreou na noite de ontem no canal a cabo HBO, aqui nos EUA, “Game Change” _o filme inspirado no livro dos jornalistas Mark Halperin, da revista “Time”, e John Heilemann, da “New York”, sobre a campanha presidencial de 2008. É uma bomba para quem gosta e não gosta de Sarah Palin.
Enquanto a obra dos jornalistas (lançada no Brasil pela Editora Intrínseca no fim do ano passado, sob o título “Virada do Jogo”) faz um apanhado minucioso dos dois lados da campanha, com altos e baixos vividos por democratas e republicanas, o filme do diretor Jay Roach, ainda sem estreia prevista no Brasil, foca apenas no lado republicano. Especificamente, em Palin.
MAIS especificamente, em culpar Palin sozinha pelo naufrágio da campanha de John McCain.
Roach traz no currículo as divertidas cinesséries “Entrando numa Fria” e “Austin Powers”. Mas “Game Change” não tem graça nenhuma. É um filme sobre uma mulher despreparada, sob extrema pressão, tentando cumprir o papel de candidata à vice-Presidência dos EUA e com a missão extra de salvar uma campanha ofuscada pelo “star power” de Barack Obama (nas palavras dos republicanos). Seria ótimo, se não fosse tão parcial.
“Ele é uma celebridade. Precisamos de uma celebridade para nossa chapa. E precisamos fechar o deficit com o voto feminino”, diz o estrategista Steve Schimidt, encarnado por Woody Harrelson (“Assassinos por Natureza”), a certa altura. E aí vem Palin.
Julianne Moore está impressionante no papel da ex-governadora do Alasca, emulando os trejeitos e cacoetes que fizeram de Palin ao mesmo tempo a musa do movimento conservador e o alvo de chacotas do lado progressista. Se restam dúvidas de como ela atingiu o duplo status, o filme de Roach é hábil em demonstrar.
Carismática, empática com o eleitorado e verdadeira (ela é aquilo que você está vendo, goste ou não), Palin arrebatou o público do miolão americano, a tal da “Small City, America”, que ela tanto gosta de citar, com a imagem de “gente como a gente”.
A beleza também ajudou, é verdade, mas a empatia de Palin, a identificação dela com o público, são qualidades raras – e Moore, uma das melhores atrizes de sua geração (“Magnólia”, “Minhas Mães e Meu Pai” etc) canalizou perfeitamente essa frequência emitida pela candidata.
Por outro lado (desculpem, fãs de Palin, mas é fato), trata-se de alguém totalmente despreparada para o cargo _ao menos, em 2008.
É verdade que a frase célebre que muita gente atribui à ex-governadora (“posso ver a Rússia lá da minha casa”, ao ser indagada sobre suas credenciais em política externa) não foi dita por ela, mas pela comediante Tina Fey, em sua genial recriação de Palin como personagem.
Mas a Palin real não passou muito longe disso. Reassistir sua entrevista a Kate Couric, aquela onde ela dá respostas sem sentido algum, é excruciante. A cena foi montada em cima do arquivo real, o que torna tudo mais realista.
Revela-se ainda que o desconhecimento sobre a Rússia não é nem a pior falha de conhecimento de Palin. Segundo o filme (e o livro), ela não sabia que a Coreia do Norte e a Coreia do Sul eram países diferentes; desconhecia o fato de a Inglaterra ter um primeiro-ministro e ser ele, não a rainha, quem manda no país e – pior – não fazia ideia do que era o Federal Reserve, o banco central dos EUA.
Imagine um candidato a vice-presidente, que pode vir a ser presidente, não saber o que é o Banco Central de seu país. Como faz?
Sim, a Palin de Halperin, Heilemann, Roach e Moore é uma ignorante completa. Mas é inteligente e sabe como se comunicar.
Halperin, a quem eu entrevistei na ocasião do lançamento do livro no Brasil, diz ter feito um longo trabalho de entrevistas com todos os envolvidos para montar os diálogos, o que me faz crer que as cenas ali contidas são reais, para o bem e para o mal.
O PAC (comitê de ação política) de Palin, porém, já protesta e diz que o filme é aviltante, uma distorção da imagem da política. Na semana passada, estavam distribuindo panfletos aqui em Washington para *alertar* o público.
A questão, acho eu, nem é o fato de retratar Palin como despreparada (ela era). Mas culpá-la sozinha pelo naufrágio da campanha, sendo que a campanha já ia mal antes de sua entrada, que as chances de o Partido Republicano eleger o sucessor de George W. Bush sempre foram pequenas. (O diretor também não tem muito respeito com John McCain _em uma interpretação apenas ok de Ed Harris _ o senador é retratado como alguém acima do bem e do mal, meio bocó até.)
Ok, Roach mostra a pressão a que Palin foi submetida, dura para qualquer um. Em dado momento, após a então governadora dar sinais de estafa mental após tanto estudo e cobrança, Schmidt pede uma avaliação disfarçada de um psiquiatra. O médico diz que para alguém que tem um bebê com síndrome de Down, uma filha adolescente grávida e solteira e está concorrendo á vice-Presidência, ela está ótima.
Mas, em mais de uma cena, Roach culpa Palin por não ter se preparado, feito a “lição de casa”. Na verdade, a mim, assustou mais as cenas de assessores desesperados tentando ensiná-la, e ela saindo da sala, ou se recusando a responder, do que o fato em si de ela não saber nada sobre o resto do mundo.
De qualquer forma, é bom que se leve em conta que o que rege o filme é a visão de Schmidt, que se tornou desafeto declarado da ex-governadora. Tendo isso em conta, torna-se interessante assistir para se ter ideia dos percalços de uma campanha política. Se o espectador conseguir desapaixonar sua visão de Palin e observar as nuances, sem achá-la uma política fantástica ou uma completa imbecil, tanto melhor.
Há de se apreciar, porém, a dose de ironia que o diretor reservou para o final, quando mostra os estrategistas de McCain, após terem de dissuadir a candidata de fazer o discurso de admissão da derrota normalmente feito pelo titular da chapa. “Amanhã, todos se esquecerão dessa mulher”, dizem. Em volta, a plateia grita seu nome, entusiasticamente, como se fosse ela que tivesse ganho.
Eu concordo com os liberais que essa mulher é totalmente despreparada.
Mas parece que eles só fingem. Se realmente achassem ela desprepada não ficariam anos e anos tentando denegrir a imagem dela. Acho que ela é um Rick Perry de saia. Ou um Joe Biden. Basta dar corda que ela se enforca sozinha, não precisa dessa campanha constante. O resultado que os liberais conseguem é isso que a gente vê: eles atacam, muita gente se solidariza com ela, aí eles atacam mais, mais gente se solidariza, eles atacam mais ainda, mais gente ainda se solidariza… E essa irrelevância continua sob os holofotes.
É, de fato a Palin soube capitalizar essa atenção. Mas, pera aí, fez bem menos que o Biden ou o própio Rick Ooops Perry, não? (Sobre o Biden, já viu as fotos do The Onion?) Abs!
Bem lembrado! Ela não supera nem Biden nem Perry.
Fui ver as fotos do Biden. Batem bem com a impressão que eu tenho dele.
O melhor retrato dele, entre realidade e ficção, na minha opinião, foi aquela declaração inequívoca de apoio a política do filho único na China e depois a tentativa de conserto.
O sujeito não tem a menor idéia do acontece ao redor dele e do ele próprio faz. É um Forrest Gump enfatuado.
http://www.youtube.com/watch?v=ogcvQ8fjIFc
http://news.yahoo.com/blogs/ticket/biden-issues-clarification-china-one-child-policy-comments-181955135.html
Hmm, não acho que seja um Forrest Gump não. O Biden não é limítrofe. Mas é alheio, fato. E ainda tem rumor de que o Obama pode trocar Biden e Hillary de cargo, um com o outro. Se for verdade, acho um erro. Abs.
O filme é parcial e feito sob encomenda. Por que, na ocasião do documentário “Undefeat” não foi dado a ele a mesma publicidade que está tendo este da HBO? é verdade que durante a campanha de 2008 ela não estava preparada, atiraram-na aos tubarões porque precisavam de alguém com carisma e que tivesse comunicação com o público, para levar o McCain nas costas. Com certeza, o filme sob a morte de Bin Laden que esta sendo realizado, com lançamento previsto para Novembro, fará muito sucesso e será um componente a mais para a eleição do Obama, mesmo ele não precisando disso, afinal, os atuais candidato republicanos são medíocres.
Otávio, concordo com tudo que você diz. Só não acho que seja feito por encomenda, mas achei parcial. Mesmo com todas as críticas possíveis à Palin, não dá para culpá-la sozinha pelo que aconteceu. Até porque se o único problema da campanha fosse ela, os culpados seriam os marqueteiros. Abs
A frase “you can actually see Russia, from land, here in Alaska.”, ao ser indagada sobre suas credenciais em política externa) foi dita por ela. Leia o blog de Eric Zorn e veja o entrevista da ABC que por sinal fez parte do filme.(http://blogs.chicagotribune.com/news_columnists_ezorn/2010/04/did-sarah-palin-really-say-you-can-see-russia-from-alaska.html)
Flavio, então, é o que eu disse: ela falou algo parecido com a frase que ganhou fama: “no Alasca, conseguimos até ver a Rússia de longe”. Mas a frase “posso ver a Rússia lá de casa”, que ganhou fama, é uma caricatura (bem baseada na realidade) da Tina Fey. Abs!