Diminuindo Detroit
28/03/12 12:13
DE DETROIT – Há um ano, a diretora do plano de desenvolvimento de Detroit, Marja M. Winters, 33, deu entrevista ao jornal “New York Times” dizendo que quando frequentou a faculdade aprendeu que a arte e a ciência deveriam ajudar as cidades a crescerem. Agora, sua missão é ajudar Detroit a diminuir. “A realidade é diferente. Quem diria?”
Em 2010, a prefeitura lançou plano para reestruturar a cidade e “ajustar” serviços públicos, como remoção de mato, transporte urbano e iluminação, de áreas abandonadas. Para o órgão, “estratégias de intervenção precisam ser baseadas na realidade dos bairros e no fato de que os recursos da prefeitura são limitados”. Vale lembrar que neste ano de eleição os orçamentos e os recursos humanos das administrações públicas estão encolhendo.
Graças ao declínio da indústria automotiva americana, que perdeu mercado para outros países e depois enfrentou uma recessão interna, Detroit perdeu 25% da população entre 2000 e 2010.
Em regiões como o Sudoeste, 20% das casas estão abandonadas. Blocos inteiros estão às moscas. Em alguns quarteirões, estruturas deterioradas convivem com casas ainda habitadas.
Em visita ao município, vi que muitos moradores não estão assim com tanta vontade de colaborar com o plano de diminuir a cidade.
“Eu não quero sair do bairro”, disse-me James Washington, 30, que trabalha na construção civil, quando visitei a assustadora rua West Robinwood, onde um incêndio destruiu quase todas as casas e hoje só há os esqueletos das estruturas, caindo aos pedaços. “Quem quer mudar e reconstruir a vida do zero em outro lugar?” Os casarões da região, nos anos 1960, eram sonho de consumo da classe média.
O metalúrgico John D. (ele não quis revelar o sobrenome) também me disse que não quer sair dali. Ele contou que acaba de comprar duas casas “por uma pechincha”, sem precisar o valor.
“A prefeitura não liga para os pobres”, me disse uma babá que não quis me dizer o nome nem a idade. Abordei-a quando saía de uma casa sem porta e com janelas quebradas, onde entrava o frio de -1º C que fazia naquela tarde. A mulher me contou que estava desempregada.
Para alguns moradores, a população de rua que ocupa algumas das casas abandonadas traz insegurança aos moradores que se recusam a deixar os bairros deteriorados. O taxista que me levou ao lugar, Larry Miller, 57, afirmou que foi muito difícil convencer a mãe de 90 anos a se mudar da casa onde passou a vida toda. Segundo ele, um morador de rua havia ocupado a casa ao lado e colocado cachorros para proteger a propriedade, o que ameaçava a segurança da senhora.
Outros têm opinião diferente. Washington me disse que os moradores de rua não atrapalham. “Eles não incomodam ninguém. Só querem uma casa, como todo mundo.”
Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, nenhum morador, novo ou antigo, foi removido de vizinhanças deterioradas que são alvo do plano de reestruturação urbano. Mas a meta é demolir 10 mil construções até 2013 e aos poucos modificar a oferta de serviços públicos nesses lugares.