Elaine Bennes na Casa Branca
23/04/12 15:29WASHINGTON – A ficção já nos deu uma lista de presidentes americanos bem mais interessantes do que vários de seus modelos reais (sou fã do presidente Palmer de “24 Horas”), mas dificilmente se ocupa da figura do vice fora de época eleitoral.
Embora aqui o vice seja também presidente do Senado, é preciso um Dick Cheney (e uma relação de influência como a que ele mantinha com George W. Bush) para atrair mais atenção para o cargo.
Tudo isso para dizer que o posto mais sem graça da política americana acaba de virar tema de uma nova série de TV, estrelada pela genial Julia Louis-Dreyfus (a Elaine de “Seinfeld”).
Em “Veep” — que a HBO estreou ontem nos EUA e ainda está sem data para começar a passar no Brasil — Julia vive Selina Meyers, uma ex-senadora medíocre que se vê às voltas com a pomposa irrelevância de ser vice. (“Veep” é a abreviatura V.P., vice-presidente.)
A graça é que a função, apesar da possibilidade de torná-la repentinamente a pessoa mais poderosa do mundo, é inexpressiva. No primeiro episódio, a maior preocupação de Selina é assinar um cartão de melhoras para um senador doente. E perguntar à sua equipe, à toda hora, se o presidente ligou (não, ele nunca liga).
Se “Seinfeld” era uma série sobre o nada, “Veep” trata de um cargo sobre o nada, ótima sacada do produtor britânico Armando Inannucci (de “In the Loop”) .
Confesso ter dificuldades em olhar para Ms. Louis-Dreyfus e não ver a destrambelhada e assertiva Elaine, uma das minhas personagens favoritas na TV. Ao menos no primeiro episódio, entretanto, ela usa com parcimônia os traços elainísticos ao mesmo tempo em que se distancia da proto-hipster nova-iorquina com algo além do figurino.
Sim, Selina é sarcástica como Elaine. O desconforto do cargo contudo, torna suas tiradas e patadas mais contundentes e absurdas. Já a facilidade para meter os pés pelas mãos — como dizer a palavra “retardado” em discurso oficial — parece inspirada pelo “Veep” real, Joe Biden, pródigo em gafes.
A equipe que a rodeia está azeitada, a começar pela chefe de gabinete, vivida por Anna Chlumsky. Esqueça a menina fofa que fazia par com Macauley Culkin em “Meu Primeiro Amor”. Amy, a nova personagem, trocou a doçura pela frustração. O enfadado assessor de imprensa (Matt Walsh), sobre quem Selina tripudia, também merece atenção.
O trabalho de vice é bizarro nos EUA, mais ainda do que no Brasil, onde o fato de termos dois vices assumindo nos anos 80 e 90 deixou o eleitor mais atento. Aqui, a última vez que isso aconteceu foi quando Gerald Ford substituiu Richard Nixon em 1974, no pós-Watergate.
Ao focar nessa falta do que fazer (nem citar xarope de milho em discurso ela pode, porque o presidente considera o assunto “sensível demais” para sua vice), a série promete ótimas piadas para quem aprecia a política ou de um pouco de sordidez.
Ah, e para quem gosta de guarda-roupa, o figurinista Ernesto Martinez disse ter se inspirado em Michelle Obama, “sexy e poderosa”. Vai ser divertido.
Vim falar de outra coisa, Luciana. Eu vi o O’Reilly Factor hoje e eles mostraram um vídeo sobre chamar imigrantes ilegais de imigrantes ilegais e aí lembrei de você.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ebs6SCPf_dU
Nenhum argumento deles se sustenta. Olha bem com quem você está se alinhando!
Joe, o vídeo é de propaganda, mas é bom. O O’Reilly está defendendo a campanha? É estranho vindo dele. Mas eu mantenho o meu ponto de vista e aceito o seu. (acho que a palavra não ajuda, mas não acho que todos que a usem o façam com propósitos racistas, discriminatórios como diz o comercial). Abs
O O’Reilly tem a mesma posição que eu. Ele mostrou o vídeo para mostrar até onde os liberais são capazes de ir.
http://latino.foxnews.com/latino/politics/2012/04/30/bill-oreilly-weighs-in-on-word-debate/
Parece piada de stand up. Mas infelizmente tem gente com essas idéias de verdade.
Ah, entendi. O vídeo é obviamente de propaganda, Joe, eu concordo com você. Mas de fato eu acho que a palavra não ajuda. É o que eu te disse, podemos ficar argumentando em círculos aqui… Também não acho que seja racismo ou qualquer coisa assim. Agora, me ocorreu uma dúvida. Os filhos desses *ilegais* que vieram para os EUA crianças, você classifica como? Ilegais também? Ilegais passivos? Ou nesse caso você aceitaria a nomenclatura de irregular? Abs.
Imigrante ilegal é só um termo que descreve a situação imigratória de alguém. Não é juízo de caráter e não é insulto.
Portanto, criança estrangeira que mora nos EUA sem visto é imigrante ilegal.
Sim, acho que há um exagero em dizer que é insulto. Mas a criança não teve poder de escolha, certo? É difícil argumentar que uma criança faça qualquer coisa ilegalmente, dado que desconhece a lei. Mas aí vamos entrar em uma discussão jurídica, e eu não tenho preparo para uma discussão jurídica – está é só uma opinião, não uma afirmação. Abs.
Oi Luciana, estava com saudades da sua coluna. Ainda bem que você voltou com muitas notícias. Em relação ao vice não fazer nada, nós sabemos que não é bem assim, por isso que a escolha dessa função deve ser muito bem criteriosa. Quem será o (a) vice de “Ruimney”? Marc Rubio ou Jeb Bush?
Oi Otávio! A visita da Dilma e o FMI me “sequestraram”, rs. Na verdade a questão é o risco de o vice assumir a presidência mais do que o dia-a-dia como vice em si, não? Claro que há vices influentes, como o Cheney, mas acho que eles são ponto fora da curva. Eu aposto no Rubio como vice do Romney, ele precisa de alguém carismático mas que não tenha, por ora, ambições presidenciais. O Jeb Bush, por melhor que seja, ainda está muito associado ao irmão e não chega a aparecer na lista de cotados, ainda. Abs!
O tal de presidente Palmer me pareceu gente boa, mas meio chato. Não tão chato quanto 24 horas. Que é um bom ícone daquilo que os americanos produzem aos borbotões: seriados ultra-pasteurizados. 24 horas é cult, diga-se de passagem, pra galerinha jovem republicana.
Você deve conhecer o nosso vice, Luciana, o tal do Temer. Autêntico dinossauro paulistano cujo monocórdio é “O Grande PMDB -ou dizem MDB quando querem insinuar que suas origens estão na esquerda – merece mais espaço no governo da presidente”. Uma figura. O ACM dizia que ele parece mordomo de filme de terror. Leva jeito realmente. 😉 abs
Eu gostava das primeiras três temporadas de 24 horas, clichês incluídos. Depois começaram a se repetir. Quanto ao nosso presidente, Silvino, usarei da minha prerrogativa de correspondente para me abster de comentar sobre política brasileira! Abs.
Com tanto medo assim de se queimar, Luciana? Eu não preciso de almanaques pra tirar informações de pontos e vírgulas.
Desculpe, não entendi.