A turma do fundão
15/05/12 13:07WASHINGTON – Antes de ler este post, pense em todas as cretinices que você fez na adolescência e quais delas depõem contra seu caráter hoje. Quais foram erros isolados, quais prejudicaram alguém, quais evoluíram para problemas mais graves. E quais lhe ensinaram alguma coisa.
Foi isso que me veio à cabeça quando li sobre o factoide da semana passada na campanha eleitoral americana — a revelação, em uma reportagem do “Washington Post”, que o republicano Mitt Romney certa vez cortou os cabelos de um colega à força, com a ajuda de seus amigos.
Pior, a vítima era pouco popular, mais fraca e depois se assumiu gay (há dúvidas se Mitt fez isso porque era homofóbico ou só porque achou graça na brincadeira imbecil).
A notícia veio à tona bem na semana em que o presidente Barack Obama declarou apoio ao casamento gay, e o contraste foi inevitável. Obviamente nem quem é contra o casamento entre as pessoas do mesmo sexo achou que o comportamento passado de Romney fosse adequado. O próprio candidato se desculpou.
Enfim, parece-me ponto pacífico que o bullying de Romney é injustificável. Mas será que isso diz, de fato, algo contra o sujeito que quer concorrer à Presidência dos EUA?
Lembro que em 2008 houve uma megapolêmica porque descobriram que – oh – Obama fumou maconha no colegial (digo, ensino médio… eu sou antiga). E daí? Ok, é uma contravenção, um antiexemplo, mas, sinceramente, o que isso depõe contra o presidente?
Claro que o debate não seria o mesmo se soubéssemos que Romney humilha publicamente funcionários ou é homofóbico, ou que Obama trabalha em, hm, estado alterado. Mas não há indício nem de uma coisa nem de outra.
Já tivemos uma discussão passada neste blog sobre o quanto as infidelidades conjugais dos políticos dos dois lados (Clinton, Gingrich) entram na balança na hora de decidir o voto e se elas deveriam ser realmente uma preocupação eleitoral.
Eu acho que não, mas vários leitores acham que sim, sob o argumento de que quem mente à mulher pode mentir aos cidadãos (há risco de cairmos num sofismo aqui, mas, vá lá). De qualquer modo, essas são decisões tomadas na idade adulta — nos casos dos senhores citados, no cargo.
E as trapalhadas de adolescência? Elas devem pesar contra o candidato? Elas devem ser determinantes na hora de escolher?
Achei esta charge no “Los Angeles Times” muito boa.
O que ela diz para mim é que, por um lado, esses episódios depõem contra o susposto sistema meritocrático americano e a quem ele premia. E que, por outro, eles falam alto sobre redenção (quem conhece as biografias dos dois sabe que eles têm esse momento claro, Obama na Universidade Columbia, quando cunhou sua identidade racial e social, e Romney na época de missionário na França, quando quase morreu em um acidente).
O cinema e a literatura americanos amam uma história de “coming-of-age”, amadurecimento. Na ficção. E na política, há redenção?
Porque depõe contra a meritocracia?
O sistema é muito mais injusto do que os americanos gostam de acreditar, mas não porque os dois candidatos não nasceram perfeitos.
Desculpe, não entendi.
De qualquer forma, quem fabricou o factoide mais uma vez venceu.
Factoides, de fato, Sebastião. Depõe contra a meritocracia porque sujeitos longe de serem bons alunos chegaram lá. Mas você tem razão, deveria ter sido mais clara — estou falando da fase escolar só. Claro que depois ambos tiveram conquitas. Abs.
A família da suposta vítima nega saber disso e não sabemos os motivos dos acusadores. Eu acho estranho alguém dizer que sente remorso por algo e sair falando por aí, ainda mais para a imprensa. Vamos considerar que seja verdade só para fins de argumentação mesmo.
Esse evento sozinho não signfica nada. Só é relevante se for parte de uma narrativa maior. Creio que o Washington Post quis levantar o assunto de como o Romney é estranho para ver se aparece mais gente para contar podres dele.
Mau comportamento na adolescência, capacidade de já casado e pai de família amarrar o cachorro no teto do carro para viajar até o Canadá e mais algum(ns) outro(s) podre(s) que eventualmente surja(m) podem revelar (ou criar uma percepção de) mau caratismo dele. O jeito é esperar para ver o que mais surge.
Engraçado que sobre o Obama a imprensa não desenterra muita coisa.
É que sobre Obama desenterraram em 2008, não? A própria história da maconha. Também acho que esse episódio isoladamente sobre o Romney diz muito pouco (e o do cachorro também, sinceramente). De todos esses, o único que me diz algo é o “I like to fire people”. Abs. (ps. você viu as sátiras do “A Vida de Julia”?)
O Obama é muito protegido. Ninguém sabe o que ele escreveu nos tempos de faculdade, a imprensa faz um esforço danado para abafar e minimizar as relações dele com gente muito suspeita (Bill Ayers, Jeremiah Wright, Van Jones) e ele vive cometendo erros grosseiros e demonstrando uma certa vergonha de ser americano. E a imprensa continua protegendo.
De cabeça, estrou lembrando de algumas dele. Tem a tal apology tour, deixar Polônia e República Tcheca na mão para bajular a Rússia, fazer ataque despropositado ao policial Joseph Crowley e depois tentar consertar chamando o cara para tomar cerveja na Casa Branca, esquecer da liberdade de expressão americana e ligar para o pastor da Flórida para ele não queimar o Alcorão para evitar melindrar os muçulmanos que não sabem conviver com a diferença e a liberdade alheia, ter a capacidade de dizer que é um dos melhores presidentes dos EUA, atacar a Suprema Corte e levar um chega-pra-lá imediatamente do Poder Judiciário.
Pois é! A turma do Obama não dá trégua. Fizeram esse Vida de Julia e o ridículo foi total. Não ficaram satisfeitos (ou são tão arrogantes que não conseguiram enxergar o que fizeram) e agora usam as biografias dos presidentes do site da Casa Branca para fazer campanha para o Obama. Essa gente não tem limite, não tem pudor nenhum!
O que o Romney estava dizendo é que ele gosta de poder demitir gente que não presta serviço direito. Essa fala dele, na minha opinião, é positivíssima! É um inferno não ter como se livrar de funcionário inútil e de funcionário que se dedica só a roubar a empresa. É horrível não ter como dispensar um prestador de serviço porque ele não tem concorrência, você agüenta aquele serviço porco ou fica sem serviço nenhum. Outro inferno, bem brasileiro, é não ter como mandar embora funcionário público corrupto, não ter como demitir e prender juiz vendedor de sentença, promotor corrupto e por aí vai.
Joe, vou deixar para responder depois… concordo com algumas coisas aí mas discordo da maioria. Agora, uma coisa que não é questão de opinião: a ligação do Obama com o maluco do Jeremiah Wright foi bem explorada, sim. Se as pessoas votaram nele apesar disso foi uma escolha delas. Mas não dá para dizer que isso foi omitido, disfarçado ou qq coisa assim. Abs.
Eu também estou esperando a sua tardia resposta sobre os comentários do Joe.
Quanto ao “maluco jeremiah Wright” como a Sra. se refere ele não é tão maluco assim
Por favor leia abaixo:
http://www.newsmax.com/Newsfront/klein-wright-silence-obama/2012/05/13/id/438902
Além do mais “as pessoas não votaram nele(Obama) votaram sim na COR DA PELE, e nas promessas não cumpridas por ele. Esses mesmos que votaram na cor da pele tem um % de desemprego superior a 20%.
José, as pessoas votaram nele, e votaram, sobretudo, contra o Bush. Abs.
Todas as coisas da minha lista foram expostas, ou eu não saberia de nenhuma delas. Mas não foram devidamente exploradas.
O Obama deveria ser sido confrontado com a pregação que ouviu da boca do Jeremiah Wright por 20 anos. E não foi. Ele se afastou, pediu para o reverendeo ficar calado e ficou por isso mesmo.
JOSÉ SCHUSTER, vai com calma. Você parece estar sempre furioso.
O Obama não foi eleito por ser negro e se perder agora não vai ser por isso. Você deveria procurar no youtube uns discursos dele. Ele é um orador arrebatador e por isso derrotou a Hillary e depois o McCain. O azar dele é que discurso não altera a realidade. É preciso governar e isso ele não dá conta.
PS: Dá uma trégua com esse newsmax.
Joe, o Obama disse que discordava do que declarou o White. Acho que houve questionamento suficiente sobre a influência que o pastor exerceu sobre ele, mais do que isso é alimentar o factoide.
Justamente!
O Obama ouviu aquilo por 20 anos. Só depois de a imprensa divulgar o que o homem falava é que ele começou a discordar? Será que ele ia pra igreja do cara para dormir e só soube o que ele falava pela imprensa?
O que é pior: ouvir aquilo por 20 anos ou a facilidade em abandonar o guia religioso dele de 20 anos?
O Obama repudiou o pensamento do reverendo, mas agiu várias vezes como se concordasse. Acho que a própria campanha do Obama deve pensar isso. Viu o pânico deles com a ameça do ressurgimento do Wright na campanha?
Vi o pânico. Mas eu acho isso de uma chatice… é que nem quando começam a questionar o Romney por ser mórmon. Sério? Não é melhor se ater a outras coisas? Não sei, Joe, eu talvez seja secular demais para entender o eleitorado americano. Sobre ouvir por 20 anos, não é bem ouvir por 20 anos, se eu entendi direito, o sujeito não pregava daquele jeito em todo sermão. Mas o Obama já tinha deixado a igreja antes de vir à tona.
Joe comentou em 21/05/12 at 18:24
Você tem razão eu preciso ir com calma com referência ao Mr.Utopia Obama. O Obama estava no lugar certo na época em que a crise econômica desencadeou, este é um fato, mas 95.62% de um grupo racial votando para ele quer dizer sim foi a COR DA PELE. Quanto a sua(dele) capacidade de orador pode ser muito boa, mas as prioridades estão completamente ao inverso.
A capacidade dele para ser Presidente é muito duvidosa.
Talvez ele vai perder por não ser negro, e quem sabe com os “flips & flops” dele tudo é possível. Antes de ser Presidente ele era a favor do casamento entre gays, depois durante a campanha ele era contra, agora para a re-eleição ele é a favor. Talvez antes de terminar o mandato com todos esses “flips & flops” ele vai se tornar branco Talves então ele vai jogar o “Race Card” ao inverso.também.Ele deveria ganhar o prêmio “Noël Rosa de tanto “PALPITE INFELIZ quando joga o seu famoso “Race Card”, 2 furadas uma em Massachussets e a última na Florida.
Joe, NEWMAX é um jornal pro republicano, mas eu notei que o famoso e badalado “Washington Post” não é nada melhor em que publica. Tem publicado tanta asneira como qualquer outro.
Como disse Dean Martin “If the newspaper is clean, you must check your parrot or parakeet must be sick”
Abs.
José, não foi o apoio entre os negros que levou o Obama a ganhar a eleição — até porque os negros, nas últimas décadas, tradicionalmente votam em maior peso (consideravelmente maior peso) no partido democrata.
Luciana Coelho comentou em 24/05/12 at 10:57
Luiciana por gentileza não me faça rir, com 12.43% do total geral que representa os 95.62% dos negros faz muita diferença na contagem geral. Adicionando ainda 6.3% dos enganados “los latinos”(70% de votos latinos sobre 9% do total geral) chega se a 18.73%.
Mr Utopia Obama pode ser um bom orador como disse Joe, mas 12.63% foram votos baseados unica e exclusivamente na parte étnica da questão. Por mais que a senhora queira provar a matemática não mente, e os fatos estão nítidos e claros.
O pior de tudo é que eles votaram “cegamente” esperando que em um toque de mágica o “Salvador” Mr. Utopia Obama fosse mudar tudo. Eles estão mais no fundo do barril que antes.
Para a Sra. rir um pouco mais eu sou registrado como democrata.
O que eu estou dizendo é que o voto negro já é majoritariamente democrata, José. Achei o que eu estava procurando: em 1992, o Clinton teve 83% do voto negro — contra 10% do Bush pai e 7% do Perot. Em 2000, o Al Gore teve 90%, contra 10% do Bush filho – e essa fatia do eleitorado representou pouco mais de 10% dos votos. Então, você não pode dizer que o Obama ganhou PORQUE é negro nem APESAR de ser negro. A tendência não foi alterada. O Nate Silver, estatístico, tem uma análise muito boa de 2008 falando que o que fez Obama ganhar foi o voto urbano.
Se você acha o Obama um despreparado ou que ele não fez o que prometeu, é outra história, e isso sim faz mais sentido. Mas ele ganhou em 2008 por conta da plataforma dele, entregando ou não — e porque a ojeriza ao Bush era enorme, a popularidade do então presidente havia despencado para 20%, caso você não lembre. A eleição do Obama não tem nada a ver com cor de pele.
Caro Joe,
O Washington Post está recebendo o tratamento que merece da(s) familia(s) das “chamadas vitima(s) de Romney.
como Wash. Post Under Fire for Romney Bully Story
Read more on Newsmax.com: Wash. Post Under Fire for Romney Bully Story
Important: Do You Support Pres. Obama’s Re-Election? Vote Here Now!
No site :http://www.newsmax.com/Newsfront/Romney-bully-hair-Lauber/2012/05/11/id/438800
Isto é para aprender a ser correto
Estes assuntos estão em pauta porque nos Estados Unidos , atualmente, não tem nenhum problema a ser discutido, tanto no campo da economia, da saúde, da educação, da política externa, etc. Como já disse antes, é a eleição mais chata dos últimos anos, com um final prá lá de previsível. Tá difícil para você, Luciana, achar alguma coisa interessante para escrever neste blog, não é mesmo?
Reeleição é sempre mais chata, não, Otávio? Esta não me parece particularmente pior que Bush x Kerry. O problema é que o nível de polarização estancou o debate. Abs.
Ontem, duas reportagens me chamaram na Fox News: 1ª Uma repórter perguntou a Mitt Romney: “O senhor é a favor da liberação da maconha”? Educadamente, o mesmo respondeu: “Com o todo o respeito, mas há tantos assuntos mais importantes do interesse do povo americano que deveriam ser perguntado a um candidato à presidência, como o desemprego, dívida do governo e ameaça atômica iraniana, e você me pergunta sobre a liberação da maconha?! Tudo bem…, eu sou contra a liberação…”. 2ª Um colaborador da Fox mostrou que Washington Post dedicou praticamente meia página para relatar esse bullying praticado pelo próprio Romney, quando adolescente. E, ao mesmo tempo, dedicou pouco espaço para tratar daqueles importantes temas, em relação às opiniões do próprio Romney sobre os mesmos. A pergunta, então é: Por que o Washington Post priorizou esse assunto em relação a Mitt Romney, e que foi reverberado com igual destaque pela MSNBC? Será que essa é uma das razões pelas quais a Fox News, no jornalismo político, durante 15 meses consecutivos, tem mais audiência do que a MSNBC e a CNN juntas? Acredito que sim. Acredito que o povo, democrata, republicano e independente, exige respeito à sua inteligência. Bill O’Reilly, Greta Van Susteren, Sean Hannity e Bret Baier, por exemplo, não escondem sua condição conservadora aos telespectadores. No entanto, a maioria dos mais importantes profissionais da MSNBC e CNN, criticando a Fox, dizem que fazem um jornalismo isento, o que é percebido por esses telespectadores como inverdade.
Professor Emilson Nunes Costa.
Mas professor, a MSNBC não omite seu pendor progressista, imagine… a MNBC é a Fox com o sinal trocado. A Fox perdeu muitos telespectadores, aliás, para a CNN, supostamente por ter tirado espeaço de gente como o Glenn Beck. Sobre o espaço no “Post”, é natural o interesse dos jornais em contar a história dos candidatos do princípio. Mas achei a repercussão um exagero. Abs.
Cara Luciana, hoje, a MSNBC se declara liberal em reação a Fox. Mas, durante a campanha presidencial do republicano Ronald Reagan, ela conjugava um explícito comportamento tendencioso com uma dialética de imparcialidade. Se eu não me engano, segundo um trabalho acadêmico da Universidade de Columbia, esse comportamento tendencioso da mídia, capitaneado pela então só NBC, sem MS de Microsoft, na época dessa campanha eleitoral, em reação, foi um dos principais fatores que resultaram a criação da FNC, Fox News Channel. Com relação â audiência da Fox, veja esse último “ratings”: http://www.mediabistro.com/tvnewser/category/ratings
Professor Emilson Nunes Costa.
Sim, eles estão bem de audiência, mas ela já foi melhor. De qualquer forma, eu acho que o fato de a Fox News e a MSNBC terem audiências´maiores mostram o quão polarizado está o país. O espectador gostar de ouvir sermão para convertidos. Sobre a campanha do Reagan, não tenho como responder. Mas acho que essa retórica de imparcialidade não aparece agora. Abs.