Prefeitos vs. frango antigay
27/07/12 19:08WASHINGTON – Com Barack Obama e Mitt Romney sem muito tempo para falar de casamento gay (alguém deu uma olhada no PIB? E nas gafes da viagem do Romney ao exterior?), sobrou para os comentaristas políticos e os prefeitos país afora alimentar o mais recente imbróglio em torno do assunto.
Dessa vez, além de direitos civis e valores morais, a polêmica também envolve… sanduíches-iches de frango.
O que se assistiu nos últimos dias foi uma inacreditável sucessão de erros envolvendo os dois lados da questão após vir a tona que uma das mais amadas cadeias de lanchonete do país, a Chik-fil-A (tchic-filêi) doa dinheiro para campanhas antigay.
Indagado sobre o assunto, o presidente da empresa, Dan Cathy, confirmou as doações em entrevistas no rádio e justificou sua posição dizendo que era vontade divina. Clientes — gays e simpatizantes, famosos e anônimos — se irritaram e propuseram um boicote da lanchonete, que tem hoje mais de 1.600 unidades em 39 Estados americanos.
A posição de Cathy não é exatamente uma surpresa. Notícias sobre as doações já haviam sido divulgadas no início do ano por grupos de ativistas, e a Chick-fil-A sempre se apresentou como uma empresa que segue preceitos cristãos — nicho que aparentemente cresce no país. Isso inclui fechar aos domingos para que seus funcionários possam ir à missa/ao culto.
Da mesma forma, clientes que discordam da posição de Cathy também estão no seu direito ao deixarem de comer na lanchonete. Afinal, é o dinheiro da empresa que está sendo doado às campanhas, e é razoável pensar que uma parte do que você paga pelo seu sanduíche vai para os cofres de grupos que pregam contra aquilo em que você acredita.
O bizarro da história é como a coisa ganhou volume. E passou dos limites. Três prefeitos — Thomas Menino, de Boston, e Rahn Emmanuel, de Chicago, e o de San Francisco, Edwin Lee — insinuaram que seria bom que as lanchonetes se mantivessem bem longe de suas cidades (Menino foi mais longe, e ameaçou dificultar a abertura de uma filial).
Os prefeitos podem discordar pessoalmente da posição de Cathy — e eu também acho muito estranho pessoas que se apresentam como profundas conhecedoras da vontade divina, ainda mais se for para pregar a favor da discriminação. Mas eles não têm nenhuma base legal para vetar a lanchonete.
Se ficasse provado que a Chick-fil-A demite ou maltrata funcionários ou destrata fregueses com base em sua orientação sexual, eles estariam sujeitos a processos e multas. Isso, até agora, não aconteceu.
Tudo que o dono da empresa fez foi dar dinheiro para uma causa na qual ele acredita, ainda que para muitos pareça absurda. Por isso, o boicote é justo da parte dos consumidores que discordam de Cathy. Mas usar o poder da Prefeitura para vetar a abertura da lanchonete em uma cidade só porque você discorda do dono da empresa, não.
Se for assim, qual o próximo passo? Vão começar a vetar Igrejas que pregam contra o casamento gay? Vão fazer questionários para saber quais os CEOs que traem suas mulheres? Submeter executivos de bancos a teste de dopping?
A polêmica cresceu na última semana, e eu estou muito curiosa para ver como isso tudo afetou as vendas do chamado “frango de Jesus” — o sanduíche é apelidado assim por fãs e detratores. A publicidade negativa foi grande, mas também provocou nos conservadores um contramovimento.
Nunca comi no Chick-fil-A, raro em Washington, para saber se é bom. Agora estou curiosa para saber se o sanduíche é mesmo bom. Só que não quero ver meu dinheiro pingando no caixa de campanhas antigay. Tampouco quero ver prefeitos que usam seu poder para atacar os que discordam se dando bem.
Preparem-se para mais capítulos da saga do frango.
(pois é, escrevi este post durante a abertura dos Jogos Olímpicos. Graças à NBC, que comprou os direitos nos EUA mas não está transmitindo ao vivo.)
Cara Luciana, você não faz ideia do quanto meu respeito e admiração por você foi exponenciado pelo conteúdo desse seu artigo. Ele se caracteriza pelo equilíbrio e pura “honestidade intelectual”. Parabéns!
Professor Emilson Nunes Costa.
Obrigada, professor. Abraço!
Obrigada pelo assunto postado. Tirou minhas dúvidas … kkk Ah, quanto à NBC, eu digo, são duma viga. A transmissão não é ao vivo e tão pouco mostra as outras delegações. E quando estao transmitindo é 15 mins de propaganda e 5 de show. rsrsrrsrs Grata, de novo !
Que legal, Tarcilia. Volte sempre. (Sim, sobre a NBC, é um acinte o que estão fazendo!)
Olá LUCIANA COELHO, que legal né, não publicou meu comentário.
Já sei, o que falo, não tem importância para você, já que de nada serve para a “causa” que você apóia, não é mesmo!?
Outrossim, deve achar que, quem não vê com bons olhos essa “causa” é atrasado, maluco, fanático e etc… Faça uma pergunta a sí mesma sobre este assunto. Pergunte, é correto eu ser mulher e me relacionar com outra mulher como se ela fosse oque ela não é. No caso em questão, um homem?
É correto que eu negue ao meu próprio corpo sua biologia(Por algo que apareceu em minha mente, e que por causa disso passei a negar a mim mesma minha “real” sexualidade?
Poderia fazer inumeras colocações, mas paro por aqui. Antes faço uma ultima observação. Procure saber oque é o “verdadeiro amor”, de onde e como ele vem. Se descobrir a verdade por trás disso tudo, entenderá oque coloquei em meu comentário e jamais ficará confundida por qualquer coisa…
Grato.
Comandante Melk, o blog teve problemas técnicos e eu não consegui acessá-lo no fim de semana. Todos os comentários estão sendo liberados agora — e, como você pode ver, entre o leitorado do blog há gente com todas as posições.
Usar o poder da Prefeitura para vetar a abertura do Chick-fil-A por razões de ideologia é certamente errado. Mas como americao natural de San Francisco, posso dizer que isso não é ameaça de verdade. Uma ameaça de verdade tem consequências. Essas tres cidades progressistas são contra as grandes correntes como Chick-fil-A e McDonalds. As leis e regulamentos nessas cidades criam um ambiente muito dificil para estas empresas de preposito, para favorecer as empresas pequenas (que francamente produzem um produto superior). Alem disso, Chick-fil-A tem seu base nas periferias das cidades onde moram a população mais religiosa. Assim, não existe ameaça porque o Chick-fil-A não ja é para todos os efeitos, proibido entrar nesses mercados. Os Prefeitos estão aproveitando a oportunidade de dizer que eles bloquearam a entrada do Chick-fil-A, mais na verdade ja é proibido a muito tempo.
Não sei não, Max, há dois Chick-fil-A em Boston. Eles não são proibidos na prática. As grandes redes convivem há tanto tempo com os estabelecimentos locais, e já têm públicos tão diferentes (afinal, o produto é diferente), que não me parece ser essa a questão. Em San Francisco não há Chick-fil-A? Abs,
“frango antigay”? Exagerou aí na pitada, ein?
O artigo me pareceu bem razoável (coisa que falta muito quando os pros e os cons falam sobre esse assunto), mas, agora, desde quando discordar dos homossexuais é discriminação? Não vejo nada de discriminatório em ter liberdade de opinião. Não mesmo.
E o homem tem direito de usar o lucro dele da forma que ele quiser, não sendo ilícito.
E quando ele falou que acreditava que essa era a Vontade de Deus, ele está se referindo ao que diz a Bíblia sobre a homossexualidade: é um pecado e ponto final. A Vontade de Deus não seria diferente. Se fosse, Deus não estaria sendo – desculpe o gerundismo – coerente com a Sua Palavra.
Oi Layanna, também não acho discriminatório discordar de gays (nem de héteros). E também concordo que o dono da empresa doa para quem ele quiser. Mas acho que cabe aos consumidores gays e simpatizantes decidirem se continuam comprando sanduíche lá, sendo que parte do lucro é revertida para causas que eles não apoiam. Isso também é liberdade de escolha. O que não tem cabimento é querer fechar a lanchonete.
Sobre a Bíblia — nós não apedrejamos adúlteros mais, e não vejo ninguém por aí defendendo que esta seria a vontade de deus. Veja, não estou dizendo o que é certo ou errado, cada um tem direito a ter sua opinião e seus princípios. Só acho que a evocação de deus na hora de se justificar, como se alguém fosse dono de uma verdade inquestionável, só prejudica a discussão. O outro lado também pode argumentar que o Senhor é pela tolerância. Assim a discussão não terá fim nunca. Para mim, a chave aí é respeito à opinião alheia. Abs.
Volta e meia alguém invoca as barbaridades do Antigo Testamento como se fossem práticas cristãs abandonadas ao longo do tempo.
E isso não é verdade. O que vale para os cristãos é a mensagem de Cristo, que não endossa nenhuma atrocidade. O apedrejamento, por exemplo, foi repudiado quando Jesus disse “Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!”. Lembra?
Joe, mas aí seria cherry-picking versículos. Eu acho que livros sagrados, quais sejam, não devem ser tomados como lei. Você pode reger sua vida por eles se quiser, mas não pode submeter toda uma sociedade a eles. Por isso, prefiro que o debate nesse caso se limite à esfera das leis e da sociedade (eu sei que os seus argumentos não passam pela Bíblia; só estou explicando porque eu sou contra meter Deus em questões legais). Abs.
Todo mundo pode invocar seu ponto de vista religioso. Isso não é sinônimo de impôr aos outros e está dentro da lei. Agora, querer calar os outros só porque falam de religião é ilegal. Muito sangue foi derramado até chegarmos aqui.
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Não é cherry-picking, não. Você usou uma prática rejeitada por Cristo como se ela fosse cristã. Isso é simplesmente errado.
Estamos falando a mesma coisa, Joe, se vc quiser se nortear por religião fique à vontade, mas não é argumento legal. Abs.
Os três prefeitos fizeram ameaças, não foi só o pivete de Boston. Os autoritários primitivos estão achando que são senhores feudais, que podem hostilizar qualquer um sem o menor embasamento legal. Eu gostaria muito de ver os três fazendo alguma coisa contra essa empresa geradora de empregos e levando uma surra na justiça e, quem sabe, do eleitorado.
A Chik-fil-A doa dinheiro para campanhas em favor do casamento cristão entre homem e mulher ou para campanha contra os gays? Existe uma diferença enorme entre as duas coisas!
Sobre as Olimpíadas, viu a grega expulsa por causa da piada dos mosquitos africanos poderem comer carne caseira quando picarem os imigrantes africanos na Grécia? Parece que piada que envolva africano (mesmo sem ter nada de racista) não pode, mas afrontar cristãos, judeus e muçulmanos com vídeo de beijo lésbico na abertura não tem problema!
Não vi a questão da piada não, Joe, mas achei legal incluirem o beijo lésbico com os outros beijos.
Sobre os prefeitos, concordo com você, acho que eles estão completamente errados. A Chick-fil-A doa dinheiro para campanhas contra o casamento gay. Eu sou a favor do casamento gay, acho que os direitos deveriam ser iguais. Mas, se entendi direito, as campanhas são especificamente contra o casamento, não contra outros direitos — ou seja, pela manutenção do status quo. Cada consumidor deveria julgar se deve ou não continuar a comprar na rede, de acordo com seus princípios. Proibir as lanchonetes, como os prefeitos querem fazer, é absurdo. Eu só não entendi qual a surpresa toda do público em saber que uma empresa que afirma seguir preceitos bíblicos ao ponto de não abrir aos domingos doa dinheiro a campanhas anticasamento gay. Você pode concordar ou discordar da posição deles (eu discordo), mas não pode acusá-los de incoerência, né? Abs.
Pois é. Esse é o problema do movimento gay. Tem muita gente nele que acha ter o monopólio da liberdade de expressão.
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Sobre igualdade de direitos, casamento no Ocidente é a união entre 1 homem e 1 mulher livres. Todos têm esse direito, não vejo desigualdade.
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Sob essa definição, não admitimos poligamia (dos dissidentes mórmons e dos muçulmanos), poliandria e casamento entre pessoas do mesmo sexo.
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Vou deixar poliandria e poligamia de lado. União homossexual não é igual união heterossexual, não adianta querer tapar sol com peneira. Um casal pode ter filhos. Gays e lésbicas, não. Dependem sempre de um terceiro. Fazer de conta que uma criança tem dois pais ou duas mães é uma violação do direito que todos temos de saber de onde viemos. Só serve para satisfazer uma ideologia de igualdade às custas do direito de uma criança.
União gay e união heterossexual não sendo a mesma coisa de fato, também não devem ser de direito.
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Agora, quanto a extender benefícios fiscais, patrimoniais e previdenciários eu não vejo problema.
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Essa é minha posição, mas existem várias outras: http://www.youtube.com/watch?v=EzD9P-9sj4M&feature=BFa&list=SP30C13C91CFFEFEA6
Joe, acho sua posição compreensível, mas discordo. Particularmente, acho um argumento ruim dizer que dois homens não podem ter filhos juntos (ou duas mulheres), e, portanto, o casamento entre eles seria sem sentido. Por dois motivos: 1) de acordo com essa visão, casamento se resumiria a um contrato para perpetuação da espécie. Acho que a instituição carrega muitos outros símbolos e sgnificados além disso. 2) Fosse assim, casamentos entre pessoas inferteis também não teriam serventia/ não fariam sentido. De qualquer forma, o sujeito do Chick-fil-A tem todo direito de ser contra o casamento gay. Aliás, acabei de postar um vídeo excelente do Jon Stewart sobre isso.
Sobre a criação de filhos, o debate é mais complicado, a meu ver, pelo seguinte: eu acho excelente que todas as crianças cresçam com referência de uma figura masculina e a uma feminina. Mas não acho que precisem ser os pais, necessariamente, um pai e uma mãe. É muito, muito complicado restringir os modelos de família dessa forma. E pais (ou mães) que somem? E crianças criadas pelos avós, ou por um só avô? E irmãos que criam os irmãos mais novos? Essas famílias são menos *família* para você? De qualquer forma, isso é uma opinião particular, não acho que os leitores precisem concordar comigo. Talvez porque as crianças e adolescentes e adultos que eu conheço criados por famílias que não são pai + mãe não tenham nenhum problema maior do que os demais. Abs.
Estou dizendo que as uniões entre heterossexuais e homossexuais não são a mesma coisa, por mais que se queira fazer de conta que sim. E preferi apontar uma diferença biológica, indiscutível, para não entrar em conceitos sociais que são e serão discutíveis até o fim dos dias.
Claro que fatalidades acontecem, tem gente que cresce sem pai e sem mãe. Muitos tios, avós, padrinhos e pessoas sem laço sangüíneo cuidam de crianças. Não sei é o que isso tem a ver com matrimônio.
A coisa é bem simples, o comportamento gay/lésbico é algo que destrói valores éticos, morais, o bom siso, corr0mpe a consciência e atenta contra um fato real, “a verdade biológica do individuo”. A verdade que mostra, “oque sou(Ou seja, meu sex0)”, é a primeira vitima na vida de quem envereda por este comportamento que, não é aceito como um comportamento social pela esmagadora maioria da população mundial. Devemos buscar esclarecer as gerações futuras sobre o mal que isso causa a toda sociedade!
Discordo totalmente. Mas, não, ao contrário do que o senhor disse no outro comentário, não acho que as pessoas que defendam essa posição sejam malucas nem fanáticas. A menos que usem de agressividade e/ou violência para isso — o que felizmente não é o caso dos leitores deste blog.
Olá Luciana,
aqui nos Estados Unidos da América se pode demitir alguém por ser gay. A alegação? Conduta imoral… e o pior é que isso é legal. descobri isso depois que amigos gays diziam que ao menos aqui em Ann Arbor, MI uma pessoa não pode ser demitida por ser gay…
André, não me lembro de ver casos assim que não tenham terminado em processo… Você sabe se nesses casos aos quais você se refere essa alegação de conduta imoral veio acompanhada de alguma acusação (falsa ou verdadeira) de coisas que a pessoa tenha feito no ambiente de trabalho? Abs.