A praga republicana
23/08/12 17:10WASHINGTON – O Partido Republicano redobrou os esforços para convencer Todd Akin, o candidato a senador que caiu em desgraça após um comentário infeliz sobre estupro e gravidez, a abandonar a disputa.
Cortou seus fundos, colocou Paul Ryan, o vice na chapa presidencial e que compartilha das mesmas opiniões de Akin sobre aborto (mas felizmente não sobre estupro), para lhe telefonar e demover da ideia, e Mitt Romney para refutar a ideia de que “estupro legítimo dificilmente engravida”. Ele se desculpou, mas resiste a renunciar.
Uma parte disso obviamente é indignação (ser contra aborto é uma coisa, achar que mulher estuprado, se engravidou, é porque mereceu é outra bem diferente). Outra é cálculo político, e não sem razão.
A disputa no Senado este ano promete ser acirradíssima, e uma cadeira como a de Akin, que por ora lidera com pequena margem as pesquisas no conservador Estado do Missouri, pode acabar como fiel da balança.
Para não correr com um cavalo manco, o partido obviamente prefere que ele renuncie — mas isso tem que ser a tempo de anunciar outro em seu lugar, até o fim de setembro.
Outro problema é o voto feminino. Boa parte das pesquisas já indica que as mulheres preferem com alguma margem o presidente Barack Obama, e esse cenário frequentemente se reproduz nas disputas estaduais. Uma frase machista sobre estupro, ainda que dita por um único candidato e repudiada pelo partido, não ajuda a reverter esse quadro.
Os democratas enxergaram um flanco de ataque e já preparam a artilharia. Obama já vinha batendo na tecla dos direitos reprodutivos femininos, alardeando sua medida para a distribuição da pílula anticoncepcional e criticando a proposta republicana, em vigor em Estados como a Virginia, de forçar a mulher a ver o ultrassom de seu feto/bebê antes de abortar. Agora o cenário está posto, e a discussão sobre aborto, estupro etc conseguiu a proeza de ostracizar a economia por uns dias — mais um deserviço de Akin.
Ontem, a campanha disparou um email assinado por Sandra Fluke, a líder estudantil democrata que ficou nacionalmente conhecida ao defender o direito à pílula e ser chamada de “puta” por causa disso pelo radialista ultraconservador Rush Limbaugh, ressaltando a frase de Akin. O título era “estupro legítimo”. O texto fazia uma ligação entre as posições de Romney e Ryan com a de Akin. No blog da campanha, texto semelhante aventava a mesma ideia.
Eu não compartilho da opinião de Romney sobre aborto (que é igual à da legislação brasileira, validar somente em casos de estupro, incesto e risco de morte da mãe), muito menos da de Ryan (só em risco de morte). Mas me parece injusto equiparar a posição dos dois à frase ofensiva e degradante de Akin, que para justificar sua oposição ao aborto no caso de estupro disse que “o corpo da mulher tem meios de evitar a gravidez em caso de estupro legítimo”.
De qualquer forma, imbecis como Akin mereciam nunca mais serem eleitos. Sua continuidade na campanha só vai prejudicar os republicanos, no meio do vale-tudo político. A propósito: o Centro Pew pela Excelência no Jornalismo divulgou nesta quinta um estudo segundo o qual esta é a campanha mais negativa para os dois partidos em todos os tempos, exceto pela de 2004 (que eu também cobri, e foi uma baixaria só, aliás).
O partido mandou Akin ficar fora da convenção republicana, que começa segunda, e ele disse que vai obedecer. A ver. Os prognósticos para o evento já não andam dos melhores, com riscos de um furacão tropical passar por Tampa bem no meio da convenção. O furacão Akin, porém, parece já ter deixado um estrago inestimável.
Será mesmo que é a “praga Republicana”?
Note os dados:
DEZ CIDADES MAIS POBRES COM + de 250.000 HABITANTES
Cidade, Estado, % dos povos abaixo do nível de pobreza
01. Detroit, MI 32.5%
não elegeu um mayor republicano desde 1961.
02. Búfalo, NY 29.9%
não elegeu um mayor republicano desde 1954.
03. Cincinnati, OH 27.8%
não elegeu um mayor republicano desde 1984.
04. Cleveland, OH 27.0%
não elegeu um mayor republicano desde 1989
05. Miami, FL 26.9%
nunca teve um mayor republicano.
06. St. Louis, MO 26.8%
não elegeu um mayor republicano desde 1949.
07. EL Paso, TX 26.4%
nunca teve um mayor republicano.
08. Milwaukee, WI 26.2%
não elegeu um mayor republicano desde 1908
09. Filadélfia, PA 25.1%
não elegeu um mayor republicano desde 1952.
10. Newark, NJ 24.2%
não elegeu um mayor republicano desde 1907.
Quem seriam então as pragas,,,?
Por favor, onde está a “praga”?
Obrigado.
Praga = azar, Claudio, como se alguém tivesse jogado uma praga neles para um candidato obscuro falar bobagem bem às vésperas da convenção. Abs.
Será que a Sra. Luciana Coelho poderia orientar os srs jornalistas a analisarem o material de YouTube “Ron Paul “We are the Future” Rally – Live from USF Sun Dome – Tampa, Florida”. Estou certo que terão um furo de reportagem.
Caio, você viu que o Paul teve vários votos na convenção?
Gostei do texto. Principalmente no que tange a exposição dos fatos. Entretanto, sinto falta de um peso libertário neste evento. Não quero que me entendam de maneira errada, por isso afirmo, sou a favor da liberdade individual, portanto acredito que a mulher deve decidir em qualquer circunstância sobre a continuidade de uma gravidez indesejada. Mas, além das discussões sobre o direito ao aborto em si, acredito que o tópico principal deva ser a liberdade de opinião e de livre associação às causas expostas. Ele tem todo o direito de expor e defender seus argumentos, bem como você te todo o direito de refutá-los. Mas é importante lembrar que isso não deve lhe tolher os direitos de participar de uma disputa democrática e de inclusive ganhá-la.
Mas Marcel, o problema não é o Akin ser contra o aborto. Ele tem toda liberdade de sê-lo, e há justificativas pertinentes para isso (embora eu, como você, seja a favor da liberdade de escolha). O problema aí é ele disseminar uma falsa informação ao dizer que uma vítima de estupro “legítimo” não engravida — e ainda ter a pachorra de afirmar que ouviu de médicos. Isso não é argumento para ser antiaborto, isso é ofensivo às vítimas de estupro, independentemente de você ser a favor ou contra a interrupção de uma gravidez provocada por estupro. O que ele disse é que se uma mulher engravidou é porque ela não foi estuprada de fato. E isso é um absurdo. Abs.
Até agora não li nenhuma manifestação do Tea Party, apesar do site da Sara Palin ter condenado a declaração do tal candidato e ter indicado a sra. Steelman como candidata substituta. De qualquer maneira o estrago está feito, isso parece gol contra quase no final da partida de futebol, para o tima que já estava ganhando, sem contar as gafes anteriores ditas no estrangeiro pelo “Ruimney”.
A Palin declarou publicamente que ele deveria renunciar, Otávio. Não consigo imaginar nenhuma mulher, pró ou contra o aborto, endossando o que o sujeito disse. Sim, o estrago está feito, mas também não acho que seja o fim da linha… Não tem sido o tema principal da campanha. Abs!