Depois do furacão
29/08/12 17:49TAMPA, FLÓRIDA – Em meio à chuva, ao vento e a uma enxurrada de factoides, Mitt Romney foi, após uma penosa jornada de 453 dias desde que anunciou que tentaria concorrer à Casa Branca, foi finalmente ungido candidato.
Agora, os republicanos se esforçam para manter a atenção da mídia americana, exigida pelo furacão Isaac, em sua convenção partidária.
O problema é que os discursos, até agora, não têm colaborado muito para isso. Comentaristas da direita e da esquerda têm classificado as apresentações, até agora, no máximo como mornas (sim, hoje eu ouvi Rush Limbaugh no rádio criticando o governador de Nova Jersey, Chris Christie, por pegar “leve” demais com Obama em sua fala).
Acho que Christie foi relativamente bem — embora a plataforma dele seja questionável em vários pontos. Ele obviamente tem mais carisma do que a média dos republicanos (na semana que vem a gente comenta os democratas, ok?).
Assistindo a todos os discursos da tarde e da noite de ontem ao vivo — foram nove horas de cadeira, pois é — dava para perceber que Christie era um dos poucos que não tinha um gestual ensaiado.
Ele é desbocado e ontem estava contido, é verdade. Mesmo assim, parecia dotado de uma naturalidade que falta nesta geração de republicanos.
Quem cumpriu bem seu papel foi Ann Romney — a parte mais calorosa do casal presidenciável. De voz trêmula, ela falou das qualidades de Mitt Romney como pai e marido. Não que eu as considere relevantes no exercício da Presidência, mas o discurso de Ann foi bonito de ouvir, e mostrou que por trás do homem de negócios bate um coraçãozinho (ao menos para ela).
Outro que animou a plateia, formada por representantes partidários de 50 Estados americanos e seis territórios, foi Scott Walker, o jovem e ultraconservador governador de Wisconsin que trava uma guerra com os sindicatos (até agora, ele vem vencendo mais batlahas).
A salva de palmas que ele recebeu ontem, em duas ocasiões — ao anunciar o voto da delegação de Wisconsin para Romney, durante a cerimônia oficial, e ao discursar — só é comparável à de Ann e Christie. Considerando que falaram mais de 20 pessoas, a marca é invejável.
E quem decepcionou? Ted Cruz, o egresso do Tea Party que venceu as primárias para disputar o Senado pelo Texas. Pensava que ele falasse melhor, com mais vivacidade, uma coisa meio Palin, meio Herman Cain (não estou avaliando o teor dos discursos deles, mas a capacidade de envolver a plateia).
Nada disso. Cruz parece recém-saído de um daqueles workshops “aprenda a falar em público”, com gestos marcados, frases pontuadas por um suposto timing cômico/dramático que dificilmente funciona.
Pode ser falta de experiência, a convenção é um evento gigantesco que pode intimidar (embora boa parte das cadeiras do tampa Bay Forum ontem estivesse vazia, como mostra a foto neste texto — possivelmente obra do furacão). De qualquer forma, é preciso melhorar.
As primeiras pesquisas indicam que o evento já está ajudando a melhorar a imagem de Romney (em anos anteriores, as convenções movimentaram pesquisas entre 2 e 16 pontos, graças à exposição do candidato. A questão é ver se esse efeito persiste.
Uma supresa a todos, a presença de Clint Eastwood em Tampa, mas afinal ele é milionário, então até pode fazer sentido… Mas é preciso notar as “ausências” na última Conveção Republicana! Como disse Bill Maher, um partido que deixa de convidar para a sua Convenção, o seu mais recente Presidente (que reinou o pais por oito anos) o mais recente vice-presidente, e membros de sua gan.. digo, cabinete, como Rumsfeld, Powell, e mesmo a mais recente candidata à vice-presidência, não deveria ser chamado de partido, mas sim de Witness Protection Program (Programa de Proteção a Testemunhas, mas seria mais apropriado com um outro nome).
Bom, o Partido Democrata não convidou o John Edwards, nativo do Estado-sede da convenção. E o Bush acabou aparecendo em vídeo, assim como o Jimmy Carter. Mas, claro, esconder o último titular diz muito sobre o último governo.
Não vejo com bons olhos a entrada de Mitt na presidência dos Estados Unidos. De longe, pelos seus gestos, seus dizeres, sinto que ele é falso, dissimulado… e tenho observado que a única negra que o lambe é a Cãodoleza… Será uma pena ver Obama sair de cena sem ter um tempo extra. Mitt é um mito. E mitos servem para que mesmo?!
A perspectiva de um cidadão(a) perder ou não arranjar um outro emprego, por que a economia não vai bem, supera qualquer que seja sua tendência ideológica, pois esse é o mundo real. E é com esse mundo real que parece que os republicanos estão se identificando cada vez mais. Estados, como Ohio, que eram todos de cor azul, estão ficando azul claro, e os que já eram de cor azul claro estão ficando amarelos (indefinidos), e os que eram amarelos estão ficando da cor rosa, e os rosas estão ficando vermelhos. Os amigos de Hollywood e da imprensa de Obama não vivem com o fantasma da perda de emprego. Dirty Harry falou muitas verdades para aquela cadeira vazia.
Luciana, vi trechos de alguns discursos na convenção e achei os mesmos muito deprimentes e totalmente sem carisma nenhum. Também pude perceber que o local estava com muitos lugares vazios. É tradição das convenções apontar através dos discursos proferidos, quem tem futuro nas próximas eleições. A principio, parece que o ungido da vez é o governador de Nova Jersey, o tal Christie, assim como devem aparecer ou já apareceram Kelly Ayote e Nikki Hailey, ambas apoiadas por Sara palin em suas respectivas eleições, como a governadora do Novo México que também teve o apoio de Sara. Esta, me parece, foi totalmente isolada do evento. Hoje me parece sem, dentro do partido republicano, uma espécie de ovelha negra, mas a maioria dos candidatos que ela apoia são eleitos. Será que ela conseguirá vencer as primárias de 2016, contra tudo e contra todos, com seu carisma, sua retórica e toda uma rede midiática que a apoia? você deve ter a resposta para esta pergunta. Um abraço.
O Christie foi mal no discurso, hem. E olha que ele é o melhor em carisma ali, ele e o Rubio (mas ainda acho que o Christie tem mais substância, embora discorde dele em várias coisas).
Ola Luciana,
A verdade e que estas convencoes, tanto republicana quanto democrata, nada mais sao do que infomerciais. A fileira de politicos e familiares tentando “vender” a imagem do candidato republicano, um bilhonario com um vida altamente privilegiada desde o seu nascimento, como um dos “folks” nao convence. Aqueles que ainda nao decidiram seu voto certamente nao serao convencidos por um candidado que gera pouca empatia ate mesmo dentro de seu proprio partido. Infelizmente para os republicanos, a tormenta que caiu no sul do pais durante a convencao republicana acabou gerando mais atencao do que a convencao do partido.
Obama ira disputar a reeleicao como o presidente que matou o inimigo numero um do pais, Osama Bin Laden. O presidente que protegeu o pais de um outro ataque terrorista. O presidente que recuperou a industria automobilistica, o presidente que ate o momento evitou uma guerra aberta entre Israel e Iran. O presidente que extendeu o seguro desemprego numa epoca onde milhoes de norte-americanos seguem desempregados. E verdade que a situacao economica do pais nao melhorou como muita gente acreditava, mas e verdade tambem que ela nao deteriorou como muita gente imaginava.
A proxima semana sera a vez da convencao democrata. Sera a vez de Barack Obama vender seu peixe e tentar convencer os indecisos que ventos melhores estao a caminho nestes proximos 4 anos. Certamente a melhor labia politica ganhara esta eleicao. Neste quesito o senhor Obama leva uma vantagem enorme contra seu oponente.
Verdade. Acabei de postar sobre a semelhança das mensagens, aliás.