Charlotte vs. Tampa
04/09/12 13:57CHARLOTTE, CAROLINA DO NORTE — Em meio às frases de efeito, promessas, plataformas rasas e os ataques aos adversários que estão pautando esta campanha presidencial nos EUA de ambos os lados, uma coisa me chamou a atenção nesta eleição: o envolvimento popular.
Falatório partidário à parte, a comparação entre o que aconteceu em Tampa e o que acontece em Charlotte é chocante.
Não estou falando que os republicanos não tenham apoio amplo da população, nada disso. Eles têm uma extensa base popular, sim, e animada. A questão que me chamou a atenção está dentro da convenção — no comício/missa do Tea Party, afinal, que acontecia paralelamente e à revelia da direção do partido, tinha muita gente animadíssima.
Mas os corredores em Tampa eram quase exclusivamente preenchidos por gente branca, mais velha, de classe média e média alta. Os delegados — os representantes partidários encarregados de nomear oficialmente o candidato — também só apareciam na convenção na hora das sessões oficiais, depois das sete da noite.
Em Charlotte, aquele chavão de ªfesta da democraciaº parece fazer sentido. Não digo que haja ainda uma megaempolgação nacional com o governo Obama, porque não há.
Mas é incrível como a cidade se encheu com simpatizantes democratas de todas as cores, credos e idades. Uma cena flagrada no banheiro: uma jovem delegada muçulmana de Utah (Estado predominantemente mórmon), véu na cabeça, conversava com uma de Guam, de feições asiáticas (na convenção republicana até a delegação de Guam tinha mais brancos), bem velhinha.
O componente racial também continua forte. Na festa de rua armada pela convenção ontem — na verdade é uma festa que ocorre anualmente em Charlotte, mas neste ano ela foi planejada para casar com a convenção — a maioria dos frequentadores era negra, de todas as idades e classes sociais. Latinos também há muitos. Grupos de direitos gays fazem campanha. Ativistas de direitos trabalhistas, também. E até cadeirantes, não contemplados pelas plataformas presidenciais, eram numerosos por aqui.
Que mais? Todo mundo chega cedo, para participar das assembleias e debater política. Ser delegado democrata não é só ir ver os discursos à noite, cautelosamente planejados, pelos dois partidos, para encher o palco de latinos e negros e indianos-americanos e mulheres e qualquer outra coisa que traga à cabeça a noção de ªdiversidadeº.
De novo, não estou falando de plataforma. Não estou falando de valores. Não estoy falando de slogans e mensagens de campanha — que, aliás, estão surpreendentemente parecidos neste ano. Estou falando só da experiência de estar nas duas convenções. Esta, sim, é de uma diferença gritante.
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Visto em Charlotte: Wayne White, o ator que faz o Newman de “Seinfeld”. Sou fã.
Pegadinha: avisto Julián Castro, o jovem prefeito de San Antonio (Texas) que desponta como estrela do partido e fará o discurso principal da convenção (depois do de Obama). Coro para tentar falar com ele quando ele se desembaraça das câmeras de TV. A amiga que trabalha para a concorrência faz o mesmo. Quando emplacamos a pergunta, felizes com a atenção, o rapaz (ele tem quase 38 anos) devolve: “Mas eu sou o irmão gêmeo dele!”. É verdade. Castro tem um irmão, Joaquín, que concorre à Câmara e vai apresentá-lo nesta noite.
* Da vida de jornalista etc: achei que ia conseguir blogar loucamente e responder aos comentários enquanto estivesse na convenção. Mas tem sido impossível atualizar o blog com a frequência que eu gostaria. Peço desculpas.