Como se autossabotar
17/09/12 22:47WASHINGTON – Era para ser uma campanha promissora para Mitt Romney, o candidato republicano que emergiu de uma disputa acirrada nas primárias partidárias como o mais centrado e competente entre seus pares.
A economia patina. A popularidade de Barack Obama deu lugar, em boa medida, à decepção. O sucesso democrata em levantar fundos ainda não se repetiu. E a polarização partidária deu aos anti-Obama uma enorme motivação para votar.
Eis que Romney, um sujeito conhecido — ou que tenta se fazer conhecer — pela eficiência como executivo consegue varrer para o lixo o que seria vantagem. Não, Romney não tem nenhum segredo sórdido, nenhum chefe de campanha maluco e nenhum vice despreparado.
O candidato fez tudo sozinho, no presente, conscientemente e com a própria língua.
Sua empreitada mais recente pela autodetonação é o vídeo, levado ao ar pela revista de esquerda “Mother Jones” (acima) e feito com uma câmera secreta, por uma fonte mantida em anonimato, no qual ele diz para potenciais doadores de campanha que “não se importa” com uma parcela de 47% do eleitorado que, a seu ver, vota em Obama faça sol ou chuva, não paga impostos, depende do sistema etc etc. O tom é de desdém.
Não me parece que Romney esteja afirmando que, caso seja eleito, vai desprezar essas pessoas (embora alguns pontos da plataforma republicana me deixem em dúvida). O que entendi é que ele não se importa em conquistar os votos dessas pessoas porque elas já são, para ele, um caso eleitoral perdido.
Mas não importa. Esta campanha está sendo feita de comerciais negativos.
Da mesma forma que a campanha de Romney pegou uma frase de Obama dizendo que o sucesso individual é produto também de uma sociedade bem estruturada e transformou em uma afirmação de que o presidente acha que o Estado é o grande responsável pelas conquistas pessoais, não passará um dia para a campanha democrata pegar a frase de Romney e dizer que ele está se lixando para os pobres e vai ignorá-los se eleito.
Outra coisa. Por mais que o candidato queira ser pragmático e direto com quem banca sua campanha, não é politicamente — e muito menos eticamente — saudável você assumir que seu discurso se volta para apenas uma parte do eleitorado.
Romney não merece levar o (des)crédito sozinho. Esta eleição está polarizada de tal forma que parece realmente que as campanhas viraram apenas um amplificador que alterna raiva da oposição e discurso para base (possivelmente, para um ou outro centrista contemplativos — estes, cada vez mais escasso).
Mas ao colocar o pensamento eleitoral pragmático em palavras, por mais que em um evento privado (só que com gente demais para achar que seria tudo segredo), Romney atrai para si toda a antipatia do cidadão classe-média-baixa, das pessoas que mal fecham as contas no fim do mês, dos revoltados com a desigualdade e das pessoas preocupadas com essas pessoas. De quebra atrai também a ira de políticos e estrategistas que sabem que uma mensagem de campanha precisa ser o mais inclusiva possível.
Sim, o bordão de que “corporações são pessoas”, dito no início da campanha, virou piada e teve impacto entre o eleitorado progressista, mas é difícil crer que um centrista (ou menos ainda um liberal) tenha mudado de lado por causa da declaração.
Chamar metade da população americana de irresponsável e dependente, porém, e culpar 150 milhões de pessoas por terem dificuldades em pagar as contas é atingir um novo grau de falta de noção. Um grau, talvez, irremediável.
Ola Luciana,
O ditado popular “O peixe morre pela boca” certamente poderia ser aplicado ao canditado republicano. Quanto mais ele tenta explicar o que disse no encontro privado(como se existisse isso quando se esta fazendo campanha para presidente), mais complicado ele fica.
Os “spin doctors”(enroladores de plantao) do partido republicano estao tentando tapar o sol com a peneira. E verdade que o senhor Romney nao perdera esta eleicao por seus comentarios a respeito dos “folgados”(como vc escreveu), mas suas respostas nos dao certamente uma ideia do quanto ele esta completamente “out of touch”(fora de sintonia) com metade da populacao norte-americana.
Pois é, Edson, concordo com você. A questão é muito mais alienar metade da população. E hoje, mais um dia de explicações… Abs.
O comentário do candidato republicado corresponde a verdade dos fatos. A questão é que o eleitor é um ser “inanimado” que no processo eleitoral não pode ouvir nada diferente de um script neutro e vazio traçado pelos estrategistas de campanha.
Jornalistas por sua vezes são gnominhos amestrados que acreditam serem os mais sábios da floresta e precisam sempre explicar as coisas que o “tolinho eleitor” sozinho não teria como entender.
FHC ganhou em primeiro turno uma eleição depois de Rubens Ricupero dizer coisas muito mais sérias do que esta em um vídeo vazado. Maluf nunca perdeu uma eleição em função do seu “estupra mais não mata”, Obama não perdeu votos quando disse para seu colega russo com microfone aberto para esperar as eleições e depois ele iria amolecer o escudo anti míssil na Europa.
Romney ira perder sim as eleições mas não será por causa deste vídeo tolo.
João, eu não sei em quais blogs você costuma comentar, mas neste aqui os leitores primam pelo respeito — os de direita, os de centro e os de esquerda, independentemente de concordarem ou discordarem do que eu escrevo ou uns dos outros. Têm sido um grupo excelente e questionador até agora.
Se você acha que o mundo seria melhor sem imprensa nem jornalistas, creio que está no lugar errado.
Cara Luciana,
Não é de forma alguma uma critica dirigida a você. Tão pouco tenho algo contra a imprensa.
Apenas quero dizer que a mídia esta supervalorizando este vídeo, querendo gerar fumaça demais para incêndio de menos.
É claro que ele atrapalha, mas não será por causa dele que Rommey ira perder as eleições.
Ok, João, entendido. Também acho exagero dizer que o Romney vai perder por causa desse vídeo. Até porque a maioria do eleitorado conservador concorda com a base do argumento dele. Mas ele mostra uma falta de sensibilidade enorme para fazer um discurso inclusivo, pouco saudável politicamente. O candidato podia perfeitamente defender sua proposta de redução de benefícios sem chamar metade da população de bando de folgados… Aliás, o Wall Street Journal, que é conservador, foi até o respeitado centro de estudo com o qual Romney obteve os números citados (47%). De fato, 47% não declaram imposto de renda por conta das faixas de alíquotas, mas a maioria desses paga imposto na fonte. Aí sobram 18,1% que não pagaram impostos: 10,3% são idosos e 6,9% tem renda familiar média abaixo da linha de pobreza nos EUA. E olha que parte dessas pessoas paga outros impostos — sobre imóveis, carros, produtos etc. É uma distorção muito grande, que acaba alienando parte do eleitorado centrista. Não acho que ele vá perder por isso, mas certamente pesou contra. Abs.
Eu queria saber o que o Obama pensa dos eleitores do Romney.
“Um bando de burros, gordos e crentes”.
O que é dito em um evento privado de qualquer candidato não é o mesmo que é dito ao público.
Alguém “traiu” o Romney e ele já perdeu a eleição(não só por isso apenas).
O Obama, bem, resta apenas a ele se aproveitar dessa situação, oxalá que até 6 de novembro ele também não tenha um traidor.
Se eu fosse independente, ficava em casa mesmo, nem ia votar.
Lamento pelo Romney, mas acho que ele é melhor como pai de família e executivo como candidato. Presidente? Acredito que seria bom, mas não entrará na Casa Branca.
Victor, bom comentário, não sei o que o Obama pensa dos eleitores do Romney — sobretudo dos mais ricos. O problema é que, por mais que seja em um evento privado, o Romney expôs uma tática de campanha que aliena metade do eleitorado. Essa coisa de a mensagem ser para um público só é muito ruim. Qualquer candidato presidencial precisa de uma base ampla. Não sei se o Romney perderá por causa disso, mas ele precisa ter mais sensibilidade. Ele pode defender a política de redução de benefícios com argumentos muito melhores. Sobre seu comentário a respeito de ficar em casa, realmente essa eleição é um anticlímax. Mas acho eu que virar as costas raramente [e a melhor solução. Abs.
Ola Luciana,
ha hoje no periodico “The New York Times” uma coluna muito interessante do colunista conservador David Brooks falando exatamente sobre este assunto. Depois de mostrar os fatos de quem realmente sao os grandes beneficiarios dos programas sociais do governo(a vasta maioria de cidadaos brancos), David Brooks diz:”Pessoalmente eu ate acho o homem decente que diz coisas estupidas porque ele finge ser alguem que nao e – um tipo de caricatura que odeia qualquer coisa de governo. Mas nao importa. Ele esta fazendo uma inepita e desanimadora campanha presidencial. Senhor Romney suas ideias de reforma de direito de posse governamental sao essenciais, mas quando a incompentencia vai parar?”
Ao que parece ate mesmo o conservador colunista que e um defensor ferrenho do partido republicano se rendeu aos fatos. O Candidato republicano esta totalmente por fora da realidade da metade da populacao norte americana.
Os republicanos tentaram o slogan “Voce esta melhor do que a quatro anos?” para tentar tirar Barack Obama da Casa Branca. Obviamente nao colou. Esta metade da populacao que Mit Romney esta menosprezando pode nao esta melhor do que ha 4 anos, mas certamente ela nao acredita que uma admnistracao republicana ira melhorar sua situacao nos proximos 4 anos. Principalmente se ela for encabecada por alguem como Mit Romney. Alguem que gosta de discutir pobreza dos cidadaos norte americanos cercado por seus pares da financeira Bain Capital.
Edson, muito bom o Brooks hoje. Eu quero acreditar que um presidente Romney seria bem mais sensível e eficaz que o candidato Romney. O problema é que ser presidente — ou candidato a presidente — também se tratar de passar mensagens, inclusive de trabalhar omoral da população. Falando para uma metade só e insinuando que os demais são um bando de folgados ele só aliena mais gente. Abs.
As circunstâncias em que foram obtidas a gravação apenas mostram o verdadeiro Romney, sentindo-se mais à vontade. Poucas vezes vi um político menosprezar dessa forma uma parcela tão significativa do eleitorado.
Luciana, tenho a impressão de que a última vez que os EUA estiveram divididos dessa forma foi na guerra de secessão.
A atitude de Romney em relação à onda de ataques aos EUA nos países árabes parece-me também pouco usual. Em geral em eventos desse tipo a tradição americana é dar força ao Presidente, não importa de que partido seja.
Um abraço
Eu concordo sobre a posição do Romney. Ele podia perfeitamente esperar uns dias e apontar falhas que vê na política externa, mas jamais poderia virar e atribuir um atentado ao presidente do próprio país. Isso não ajuda em nada a imagem americana na região. E, sim, a polarização aqui está em níveis anormais, infelizmente. Nem em 2004 era assim. Abs.
Espera aí, não era a Sara Palin que era burra? quantos candidatos ela já elegeu com sua influência? quantas gafes ela já cometeu no exterior como fez o Ruimney? quem se comunica mais com o público? quem tem mais carisma? o partido Republicano está totalmente perdido, sem rumo, dividido e assim chegará em 2016. Quem sabe, até lá, eles tentem empurrar mais um Bush para os americanos. Queria fazer uma observação a você, Luciana: assisti ao discurso de Eva Longoria na convenção democrata: ou ela tem jeito para a coisa ou é uma grande atriz, porque ela se comunicou muito bem.
Otávio, fiquei surpresa com ela também. Ainda mais depois de ver a Scarlett Johannsson discursar (que estava ali só porque é linda). A parte em que ela fala da “Eva que trabalhava num fast food” comparada à “EVa atriz de sucesso” é muito boa. Sobre a Palin, de fato ela tem carissma, mas foi completamente posta de escanteio pelo partido. Nem nos eventos do Tea Party mais ela aparece. QUeria entender se foi uma ooção dela (sumir do tea Party) ou deles. Abs.
Os brasileiros, que acham que o Estado tem prover tudo, ficamos abalados.
Concordo com cada palavra que Romney disse.
Arnaldo, tudo bem, como eleitor/espectador, é uma opinião válida. O problema é que um candidato a presidente não pode discursar pensando só em uma parcela da população e esquecer a outra, ele precisa falar para todos. Não dá para simplesment jogar fora metade de um país. Esse, acho eu, é o problema principal. O segundo ponto é a veracidade dos dados. Muita gente não paga imposto de renda porque está na faixa mínima, de isenção, mas pagam outros impostos (sobre mercadorias, carros, casas, tributos locais). É injusto dizer que 150 milhões de pessoas são aproveitadores. Aproveitadores do sistema, fraudadores etc existem, são uma parte ínfima da população. A maioria é de gente que fica temporariamente recebendo benefícios. Abs.
O Romney é o cara mais perdido que já vi na vidam, aquele boneco de cordinhas que ele arrumou pra vice então nem se fala, nem com o vice ele concorda, cada vez que dão entrevistas em separado é um Deus nos acuda, sem contar que a metade da campanah do romney é para explicar o que ele contradisse no dia anterior, um desastre sem precedentes! Agora querer colocar a culpa das asneiras do candidato GOP na imprensa é de doer, já não basta a cachorrada da Fox 24/7 no calcanhar do Obama, mas a Fox não é imprensa não é MBruno?
Alfredo, estava pensando justamente nisso quando falam da imprensa “liberal”. Porque há também imprensa conservadora, com muitomais alcance. O Romney precisa de fato segurar a língua. Quanto ao Ryan, acho ele um bom orador. Não concordo com tudo que ele prega, mas acho que ele tem um discurso coerente. Abs.
Bem escrita……..sem dúvida é a opinião do
candidato republicano gravado durante uma
reunião em Boca Raton, Florida. Um pequenho
fascista de nossa oligarquía privilegiada. ” Os
pobres causam a pobreza ” ” Arbeit Macht Frei “
Essa inversão foi repisada durante toda a convenção republicana. Não duvido que exista uma meia dúzia que usuroe o sistema, mas essa não é a maioria dos que os dele dependem. De qualquer forma,o Romney depois de explicou e disse que o que quer é ue as pessoas tenham metas e não fiquem recebendo benefícios ad eternum, o que é justo. O problema é que da forma como ele falou parece simplesmente que metade da população é inútil e irresponsável e, portanto, pode ser ignorada. Não é dessa forma que ele vai resolver o problema. Abs.
Foi um comentário a portas fechadas feito em um encontro privado para arrecadação de fundos de campanha. Completamente diferente do “they didn’t build it” de Obama que foi uma frase proferida em um evento público.
É lamentável que a imprensa pró-Obama tenha descido a um nível tão baixo (espionagem de eventos privados) para constranger Romney, mas não é surpreendente. Afinal, cobrir os fatos (número recorde de americanos fora da força de trabalho, dívida interna de 14 trilhões, bandeiras islâmicas negras sendo içadas sobre embaixadas americanas, etc.) seria embaraçoso para o presidente !
Sim, foi um comentário em uma reunião com doadores, e a câmera oculta é discultível. Mas discursar para uma parcela do eleitorado apenas não é a melhor maneira de fazer política nem políticas. Abs.