Cinco focos para o debate
03/10/12 21:45DENVER, COLORADO – Barack Obama e Mitt Romney se enfrentam nesta noite no primeiro de três debates entre os candidatos à Presidência (os outros serão nos dias 16 e 22).
Segundo estrategistas e pesquisadores que tenho ouvido nos últimos dias (e também segundo a história dos debates), o evento desta quarta aqui na Universidade de Denver pode ter peso considerável na campanha, que entra em sua reta final — são só mais 34 dias até a eleição. Isso dependerá, porém, de algumas coisas:
1) Desvantagem se converte em vantagem no palco —
— 2 em cada 3 eleitores esperam que Obama se saia melhor, o que inclui eleitores republicanos. Afinal, como simplificou Bruce Haynes, da Purple Stategies, Obama É o presidente, e tem um acesso incomparável às informações sobre o governo e sobre governar. Romney não precisa nem ser melhor nesta noite: se aos olhos do público ele mostrar tanto domínio de cena e do discurso como o presidente, é capaz de reverter a vantagem de quatro pontos aberta pelo democrata nas últimas semanas e reavivar a fé em sua campanha;
2) O teste da cerveja —
— Obama parece frio e calculista; Romney parece sem jeito e robótico. Debate é sobre substância política, mas, como tudo que envolve câmeras, é também um concurso de personalidades. Se Obama soar menos professoral e se Romney soar menos elitista, talvez os eleitores até sintam vontade de tomar uma cerveja com um dos dois — algo que deu bom impulso às candidaturas de George W. Bush e Bill Clinton no passado. Assessores de Romney declararam que ele está treinando tiradas engraçadas. O risco é ele virar alvo dos humoristas depois;
3) O contrabando de assuntos —
— A melhor arma de Romney contra Obama neste momento seria questionar sua política para a Líbia, após emergirem problemas de estratégia no antes e no depois do assassinato do embaixador Chris Stevens por extremistas, dia 11. Só que o debate, pelas regras, é só sobre questões domésticas, sobretudo economia. Romney e seus estrategistas terão de fazer uma manobra genial para evocar a Líbia aí;
4) Respeito mútuo —
— um dos maiores sucessos das convenções partidárias foi o apelo de Bill Clinton para mais diálogo entre os partidos, diante do nível de polarização a que se chegou. Isso ressoou entre o eleitorado. Tanto Romney quanto Obama trocam acusações sobre quem baixa o nível (eu respondo: os dois, e muito). A ver se nesta noite eles serão capazes de concordar sobre algum assunto — sobretudo, vejamos como eles repartirão os créditos sobre o plano de reforma do sistema de saúde;
5) O mediador —
— Jim Lehrer, da rede pública PBS, é um decano do jornalismo televisivo americano, e a tendência é que seja um mediador preciso, incansável e imparcial neste debate (seu 12o., aliás!). Até agora, muito da campanha dos dois lados foi de blablablá e promessas vagas, sem especificidades sobre como se atingir os objetivos. Lehrer controla o tempo, as perguntas e quando uma resposta acabou (se foi satisfatória ou não). Esperemos que ele cobre de Obama e Romney mais clareza e menos promessas genéricas.
Ao contrário do que houve nas primárias, desta vez a plateia tem de ficar quietinha. Lehrer mandou Michelle Obama e Ann Romney anotarem o nome de quem se comportar mal.
Obama não é um presidente popular. Na verdade, pelo menos 50 % dos eleitores (ou um pouco mais do que isso em algumas pesquisas) têm uma opinião desfavorável a respeito do seu governo. Essa maioria de descontentes precisa apenas de uma alternativa “aceitável” ou “confiável” para se livrar de Obama na eleição de novembro de 2012.
Sabendo disso, a campanha de Obama e seus grupos independentes aliados gastaram centenas de milhões de dólares nos últimos 5 meses (duas vezes mais dólares em comerciais de TV que os republicanos !) para convencer o povo americano de que Romney não é essa alternativa “confiável”, mas sim um capitalista inescrupuloso e insensível, ou simplesmente um despreparado.
Até o debate de ontem, essa era a única “versão” de Romney conhecida de muitos eleitores indecisos e reforçada inclusive voluntariamente pela “mídia amiga” de Obama, até mesmo com golpes baixos e discutíveis como “filmagens secretas” de encontros privados. Após o debate entretanto, eles mesmos eleitores podem parar e pensar duas vezes achando que Romney talvez não seja exatamente o “abominável Gordon Gekko” que a propaganda democrata pintava.
Curiosamente, para uma audiência brasileira, Romney no debate poderia parecer bastante conservador. Mas, para padrões americanos, ele se moveu nitidamente para o centro em temas como impostos, educação, saúde pública e bipartidarismo, lembrando muito mais o Romney que todos nós conhecíamos do passado, i.e. o governador moderado de Massachusetts, do que o “extremista de direita” dos anúncios de Obama na TV. E, mesmo que a substância das suas afirmações seja às vezes questionável, Romney mostrou-se preparado, fluente e com domínio dos temas. Em uma única palavra: presidencial !
Quanto a Obama, o problema não foi tanto sua falta de preparo (embora ele estivesse claramente despreparado !), mas sim que, pela primeira vez em quatro anos, ele foi finalmente confrontado diretamente em relação aos fracassos da sua presidência, que qualquer um teria dificuldade para defender (como defender Solyndra por exemplo ?) . Surpreendemente, parece que ele não esperava um ataque tão direto. Obama parecia chocado e congelou em frente à câmeras. Resultado: 67 % dos eleitores registrados na pesquisa CNN/ORC acharam que Romney, de quem se esperava pouco, ganhou o debate.
Obama ainda é o favorito, pela grande margem de folga que tem no colégio eleitoral e por ser o atual presidente, mas, a partir de hoje, essa eleição voltou a ser bastante competitiva.
Boa análise, Marcelo. Não achei o Obama despreparado, achei ele cansado, ausente. E, sim, de fato o Romney se mostrou bastante moderado no debate. A questão é qual versão dele que assumiria, se eleito. Em geral, achei os dois arredios para falarem de suas plataformas em si. Mas em estilo o ROmney foi melhor, sem dúvida. Abs.
Desculpas e mais desculpas para o “coitadinho” do Obama. Cansado do que?
É como dizer que 2 clubes de basquete que jogam em uma quadra sem ar condicionado.
O DT de a equipe “A” reclama do cansaço devido a falta de ar condicionado. E a equipe “B” não está sentindo os mesmos efeitos da equipe “A”?
Luciana muita desculpa da sua parte.
Mas quem disse que eu acho que isso é uma desculpa? Parecer cansado em um debate é péssimo, não importa a razão.
Prefiro a explicacao de um dos membros da mesa redonda de Charlie Rose apos o debate. Como presidente Obama se acostumou com pessoas que falam SIM (Yes) para tudo o que ele fala, e falar de alguem quando ele nao esta presente e facil. Romney respeitou o oficio de presidente mas enfrentou Obama de igual para igual e isso o assustou pois pensava que todos estavam ali para ouvi-lo sem questionar.
Sim, isso saiu em vários lugares, João. Que o Obama, segundo assessores, reage muito mal a críticas, e que ninguém conseguiu dar muito pitaco no modo de ele debater. E é um problema histórico dele, nem na época de faculdade ele era bom nisso. Abs.
Eu escutei essa esplicacao de Democratas, mas esta resposta o enquadra na acusacao feita a G W Bush pelo proprio Obama de que o ex-pres. vivia isolado da realidade por seus aides na casa branca e assim fora darealidade do homem comum, o que da credito a confidencia de um amigo afro americano de que Obama e elitista.
Sim, a crítica é a mesma e pode ser estendida a vários presidentes…
Eu creio que o Obama sentiu falta do Bill Clinton para dar algumas dicas da “nova economia”. O fato é que é muito fácil contratar uma equipe “craft” para rodar anúncios e vídeos para desmoralizar o outro candidato, mas na hora da “verdade” no debate Obama “amarelou” e estava como um peixe fora da agua quando se fala de economia.
Concordo, Dennis. Só não concordo que ele estava como peixe fora d’água. Acho que o problema ali foi não saber se colocar, não ser “presidencial”, como outro leitor aqui colocou. Abs.
A Sra. pode adicionar este remarque sem qualquer sentido de Al Gore
“Al Gore: Altitude Caused Obama’s Flop in Denver”
Até parece que o Mitt Romney não fez o debate em Dever Co. porque ele não sentiu o “FATOR ALTITUDE”.
Depois dessa é somente o Al Gore dizer que Adão foi expulso o “Paraíso” pelo fato de calçar sapatos MARRON vestido com a folha de figo roxa.
A “foia” não vai publicar a vitória de Romney não?
Ou estão esperando algum acontecimento lá para postar e passar desapercebido?
A “foia” estava presa num avião voltando para Washington. A internet não funciona em aviões. Mas a vitória do Romney saiu no jornal impresso hoje cedo. Abs.