O executivo e o professor
04/10/12 17:49DENVER/WASHINGTON – Assistindo ao debate na noite passada, no ginásio da Universidade de Denver transformado em centro de imprensa pela organização (pouquíssimos jornalistas podem entrar no auditório), uma ideia nao saia da minha cabeça: quem estava ali, debatendo, eram o executivo e o professor.
As identidades primeiras de Mitt Romney e Barack Obama — ou segundas, porque as primeiras talvez sejam mesmo a política — ficaram evidentes no estilo retórico, no modo de abordar a questão e até nos pontos em que um e outro parecia enfadar-se com o oponente.
Para Obama tudo tinha de ser muito claro e analítico, um tom sóbrio de quem está explicando como o mundo é, de acordo com sua visão, goste você ou não. Para Romney era importante “vender” suas ideias, embalá-las bem e mostrar que elas poderia, afinal, ser úteis a todos.
Nos dois casos, era importante jogar dados, muitos dados, muitos números, e impressionar, mesmo que nem sempre esses números tivessem base na realidade. O importante era mostrar domínio da situação. E da plateia.
Nesse ponto, não vou fugir à opinião geral de que Romney, na maior parte do tempo, saiu-se melhor que Obama. Foi um vendedor eficaz — charmoso, objetivo, empático, firme. Obama parecia cansado, às vezes até condescendente com o rival e o público, como um professor cujos alunos excessivamente distraídos demoram para absorver um determinado conceito. Romney sorria, Obama balançava a cabeça e olhava para o chão.
Retórica — e estilo — são parte do estofo de um debate presidencial televisionado, e, em boa medida, o que atrai atenção para o show. A campanha de Obama, nesta quinta-feira, admitiu que o oponente republicano saiu-se melhor nesse quesito, como fizeram a maior parte dos analistas e, segundo as primeiras pesquisas, os eleitores.
É um feito importante para Romney, que vinha rateando nas últimas semanas e atraindo críticas dentro de sua própria base. Independentemente do efeito concreto do debate nas pesquisas de intenção de voto (e neste momento qualquer resposta é chute), ele serviu para mostrar à base conservadora que seu candidato está no páreo, disposto a ganhar.
Mas debate não se resume só a retórica, trata também de substância política. Neste ponto, não consigo apontar um vencedor. Perderam os eleitores. Tanto Romney quanto Obama pareciam mais dispostos a criticar a plataforma do adversário do que explicar a sua própria, mesmo quando confrontados pelo rival, mesmo quando atacados.
Eu não consegui até agora entender o que é que Mitt Romney faria de tão eficaz para mudar a rota dos EUA e levar o país de volta à bonança (eu não consegui entender nem qual versão de Romney trabalharia no Salão Oval, se o moderado compassivo de ontem ou o ultraconservador inflexível do restante da campanha).
Tampouco consegui entender o que Barack Obama faria tão diferente do que tem feito até agora — ok, o estrago poderia ter sido pior após o estouro da crise de 2008, mas ater-se a isso quatro anos depois é uma visão estreita, como se os anos no poder tivessem apequenado as ambições do presidente. Eu não entendi o que vai mudar para que o país passe da fase de controle de danos para a retomada real.
Não foi um debate memorável, pelo contrário. Foi chatíssimo, às vezes longo demais (o mediador Jim Lehrer resolveu apenas propor tópicos e deixar os dois sozinhos no ringue). Obviamente nem Obama nem Romney têm a simpatia de seus antecessores, nem a graça, nem tiradas boas o bastante para serem lembradas para além deste ciclo eleitoral (desculpe, Garibaldo).
Para parafrasear uma dessas anedotas, dita pelo senador democrata Lloyd Bentsen republicano Dan Quayle em em um debate entre os candidatos a vice em 1988: Mr. Obama, o senhor não é nenhum Jack Kennedy. E o senhor, Mr Romney, não é nenhum Ronald Reagan.
Ola Luicana,
Eu nao achei o debate chatissimo como voce coloca. Porem, a expectativa em torno deste primeiro debate foi tanta que muita gente ficou realmente decepcionada. Estamos na era dos espetaculos e dos “som bites”, entao, quando dois candidatos debatem suas ideias e suas posicoes sem os efeitos especiais acompanhando, observamos que sao apenas dois seres humanos no mano a mano.
Para a tristeza dos democratas(e alegria dos republicanos) que esperam selar de uma vez a vantagem do presidente sobre o seu rival, vimos um presidente apatico e sem as respostas rapidas exigidas contras as investidas(mesmo que falsas) do seu rival.
Voce acredita que mesmo “vencendo” o primeiro “round” de tre,s o senhor Romney(vestido de centrista) ira ganhar os eleitores necessarios para derrotar Obama?
Edson, achei o debate chatíssimo. Acho que ambos se perderam tentando acusar o outro e esqueceram de mostrar seus programas. O Obama, para piorar, pareceu desinteressado. Sobre o impacto nas pesquisas: Romney e Obama nunca saíram completamente do empate técnico, com o presidente ligeiramente a frente. Mas uma parte do eleitorado conservador estava desanimando, e acho que o debate animou de novo essas pessoas — esssa para mim é o maior impacto. Sobre tirar votos de Obama, não sei, não acho que o debate, sozinho, possa definir uma eleição. Outros fatores pesam (como os dados econômicos, que hoje por exemplo favoreceram o presidente). Mas se o Obama repetir a performance ruim e o Romney repetir a boa, acho que o republicano amplia suas chances, sim. Agora, o real impacto do debate só conseguiremos saber na semana que vem, quando saírem mais pesquisas completas feitas DEPOIS do confronto de Denever. Abs!
Luciana, não consegui entender a apatia de Obama. “A bola foi levantada” várias vezes para ele e ele não aproveitou. A proposta de Romney é inconsistente aos olhos de qualquer leigo. De onde virão os recursos mantendo os gastos militares? O mandato de Obama foi marcado pela herança maldita da administração Bush e o Obama nunca tentou colocar Romeny “no mesmo saco” republicano. Você acha que pode ter sido alguma estratégia de Obama para o primeiro debate? Haveria algo que ele queria evitar em termo de polêmica? Sinceramente, não entendi. O “ovo da serpente” começou a chocar com mais força.
Oi, Eduardo. Não acho que o Romney venha do mesmo saco que o Bush, mas, enfim… O que quem conhece o Obama diz (assessores, professores) é que ele não é muito bom de debate, que ele não consegue ser agressivo (não estou falando agressivo no snetido de exalar raiva, mas de se colocar) em um debate. Ele teria, segundo essas pessoas, ficado com medo de passar a impressão de pedante. Só que as reações dele acabaram passando essa imagem mais ainda. Se foi uma estratégia, foi uma estratégia furada… Vamos ver como ele vai no debate do dia 16, que é com eleitores participando. Talvez ele se sinta um pouco mais à vontade. Abs!
Olá, Luciana, boa noite, eu também achei que Romney se saiu melhor, mas quero acrescentar que, na minha opinião, numa democracia que se queira ser eficiente, só deve existir apenas um mandato, para que o país flua melhor. Mas a imprensa americana e a nossa, brasileira, teme uma possível vitória de Romney devido a sua política “conservadora”.
Não acho que haja medo de uma vitória de Romney, Leniéverson. Existem, sim, preferências e dúvidas — do mesmo modo que há com o Obama. Sobre limite de um mandato, acho que não seria produtivo. Uma coisa é o Obama não merecer ser reeleito, mas aí os eleitores se encarregam disso. Abs.
“… não vou fugir à opinião geral de que Romney, na maior parte do tempo, saiu-se melhor que Obama”. Oh! A simpática Luciana resistiu muito, ela não queria admitir, mas rendeu-se à realidade. Continua a torcer muito pelo Obama e não consegue ver muitas coisas. É só deixar de ler o NYT e ver com os próprios olhos e pensar com sua própria mente. E ler, ler muito.
Quis dizer que minha opinião não era original, Weimar. Só isso. Que agressividade gratuita.
Agressivo eu, Luciana?! Com você?! Agressivo eu poderia ser contra um Al Gore, um Lewandowski etc. Em suma, com gente que não tem mais jeito. Com você, por quê? Eu só aponto, lastimando, que você erre tanto, segue moda, quando tem potencial pra ser uma boa jornalista. Deixe de ler porcarias, leia coisas melhores e pense. Um dia, fazendo isso, você vai dizer pra você mesma: “Já fui tão tola! Acreditei em tanta gente horrível!”
Agressivo porque você presume minhas posições, Weimar, me acusa de torcer pelo Obama (gostaria de saber o que no post o leva a pensar isso) e de não pensar sozinha. Se você puder ater suas críticas ao teor do que eu escrevo, ou apontar exatamente o que te leva a pensar assim, eu agradeço. Se não, fica na ofensa gratuita, e eu acho vazio esse tipo de discussão. A ideia do blog não é defender nem um candidato nem outro, muito menos defender minhas posições políticas (até porque nem eu nem o leitorado do blog vota nos EUA). É estimular o debate entre os leitores, ou com os leitores, em cima de uma visão crítica da campanha aqui. Quando eu escrevo uma crítica fria ao Obama e ainda assim sou acusada de ser “obamista” (ou se fosse o contrário, porque já teve gente me acusando de ser “romnista”), é desanimador.
Liga nao menina, isso e tipico de quem e eleitor do PT. Pois insistindo em que os outros estejam errados, pensa com isso encobertar e nao precisar reconhecer os proprios. Coitado.
Assistindo daqui de longe, também achei o debate chato, arrastado e surpreendentemente ruim por parte do Obama. Se o debate daí está ruim, você já imaginou ccmo estão os debates daqui?
Putz, Otávio, pensei a mesma coisa!
“Executivo”? Pra ficar mais pejorativo? Que tal o “Empresário” versus o “Advogado”? Ah, liberais…
Desde quando executivo é pejorativo?
Liberais? Socialistas, mesmo.