Carona eleitoral
01/11/12 14:21WASHINGTON – De volta à capital quando os voos atrasados pelo país por conta do furcão Sandy, que passou levinho por aqui mais pegou pesado em Nova York, Nova Jersey e Delaware, começam a se normalizar, o assunto “campanha presidencial” volta à tona, após três dias de quase esquecimento.
E as pesquisas continuam iguais a antes.
Analistas e especialistas em pesquisas — são tantas, tão expressas — se desdobram para estimar o efeito do furacão sobre a votação. Bom, normalmente, tragédias assim tendem a deixar isolados ou devastados lugares mais pobres, e os mais pobres, ao menos nesse ciclo eleitoral, tendem a votar em Barack Obama (no Pew, é larga a vantagem do presidente na classe baixa e média-baixa, que soma até US$ 4.166 ao mês em renda familiar).
O padrão do Sandy não foi exatamente esse — ele atingiu lugares relativamente “ricos”. Além disso, Nova York e Delaware são Estados ultrademocratas, e Nova Jersey também costuma dar uma margem confortável para o partido.
O que o Sandy fez foi congelar o empate — provavelmente até o dia da eleição, na próxima terça — após três dias de campanha adiada e a suspender temporariamente a troca de ataques entre os candidatos, que não cai bem em um momento assim (na verdade, acho que não cai bem nunca). Até espaço para o republicano Chris Christie, que governa Nova Jersey, elogiar Obama teve.
E as últimas pesquisas continuam emboladas. A do “New York Times” na quarta colocou Obama à frente nos três Estados mais importantes entre os que decidem a eleição — Ohio (5 pontos), Virgínia (2 pontos) e Flórida (1 ponto). A campanha democrata vibrou.
Mas a confusão é tamanha que, na média de levantamentos do Real Clear Politics, é o republicano quem aparece na frente na Flórida, e na Virgínia há empate numérico. Claro, é tudo empate técnico, e qualquer um dos dois pode ser declarado vencedor na quarta que vem (sim, não acho que as bocas de urna vão vir com clareza suficiente para cortar o suspense).
Com isso, o desespero maior dos partidos é assegurar que seus eleitores votem. Eu estou inscrita nos sites de campanha de Obama e de Romney como se fosse uma eleitora de Washington, e ontem mesmo a campaha democrata já começou a disparar emails apelativos pedindo que seus eleitores se desloquem até a Virgínia para fazer campanha de porta em porta.
Uns dias atrás, um amigo que vive em Chicago contou que, em 2008, passou o dia no vizinho Estado de Indiana — naquela eleição, um Estado-pêndulo — levando eleitor para votar. Com Illinois definifo, o negócio era fazer mais eleitores democratas chegarem às urnas onde a decisão era mais acirrada.
Por aqui, tudo isso é legal — mais do que isso, é crucial, contando que o voto não é obrigatório.
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Sobre os efeitos mais duradouros do furacão no debate político, recomendo a leitura da excelente coluna do querido Clóvis Rossi na Folha de hoje, aqui.
Baseado nas pesquisas das últimas 72 horas, acho que Obama ganha com uma pequena margem no voto popular nacional e uma margem um pouco mais folgada no colégio eleitoral. O furacão Sandy provavelmente ajudou o presidente como mostra a mudança na pesquisa Gallup de +5 para Romney antes do furacão para apenas +1 até o último domingo.
Verdade, Marcelo, o furacão acabou promovendo uma pausa na campanha negativa que parece ter ajudado o Obama. Abs.