O último dia
06/11/12 06:30CHICAGO – Com as pesquisas rigorosamente empatadas entre Barack Obama e Mitt Romney, o número mais importante para se observar nesta terça-feira, quando os americanos forem às urnas escolher seu presidente, é o índice de comparecimento.
O voto nos EUA não é obrigatório, e o dia da eleição (sempre a primeira terça-feira do mês, ou a segunda, se a primeira terça for dia 1) é dia útil. Ninguém tem folga. É preciso estar muito empolgado para ir às urnas, sobretudo se você é funcionário de uma fábrica, ou um terceirizado que ganha por hora.
Por isso, os candidatos levaram o ritmo intenso de campanha até o último minuto,conclamando voluntários a telefonarem para eleitores e convencerem o povo a votar, desdobrando-se para estarem em três ou quatro Estados por dia e acionando cabos eleitorais de luxo como Bill Clinton, do lado democrata, e Condoleezza Rice, do republicano.
Não espanta que no fim do dia de ontem tanto Obama quanto Romney estivessem completamente roucos.
A média de pesquisas do Real Clear Politics dava na manhã de hoje a Obama uma margem de 0,7 ponto percentual — que evoca imediatamente a de 2000 Bush X Gore, quando a diferença de votos foi de 0,5 ponto percenual. Não é o suficiente para apostar na vitória do presidente.
Obama também contava com ligeira vantagem no complexo sistema do Colégio Eleitoral — a votação nos EUA não é direta; ela ocorre individualmente em cada Estado, e depois esses Estados enviam representantes a um colégio eleitoral para votarem de acordo com o vencedor local. Por causa disso, a disputa em si acaba reduzida a um punhado de Estados indecisos.
Neste ano, são Ohio, Flórida, Virgínia, Nevada, Colorado, Iowa, Wisconsin e New Hampshire, e Obama, até as últimas pesquisas, aparecia à frente em sete deles, embora sempre dentro da margem de erro (a exceção era a Flórida).
O problema é que pesquisa, nos EUA, é um negócio pouco confiável. Não dá para ter certeza de quem vai de fato votar, e um surto de empolgação ou uma desanimada geral na reta final podem fazer muita diferença a favor de um candidato ou de outro.
“Esta vai ser uma eleição decidida pelo comparecimento. Com o nível atual de polarização, muito pouca gente vai mudar de ideia de um candidato para outro. Mas as pessoas podem desistir de votar. Por isso que a votação antecipada é tão importante”, me disse ontem Paul Green, um veterano cientista político e observador da política nacional aqui de Chicago.
Segundo Green, três variáveis especialmente importantes nesta terça-feira:
“A primeira é o voto hispânico — 2008 foi a primeira vez nos EUA que menos de 75% eram brancos caucasianos, e nesta eleição isso pode cair para 72%. Há claramente uma divisão racial nos votos [Obama é preferido pelas minorias], a questão é quantos vão de fato votar” afirmou.
“A outra coisa é o voto jovem. O percentual de gente votando em 2004 oara 2008 subiu apenas um ponto percentual. Mas esta é a única faixa demográfica na qual Obama tem mais de 60% — então a questão é se vão votar e se vão, de novo, votar majoritariamente em Obama.”
E continua: “A terceira questão é quem você culpa pela crise. Em quem, com essa propaganda toda, as pessoas vão acreditar – e a campanha de Obama foi genial em fazer desta eleição um referendo sobre Romney, e não sobre seu governo”.
A campanha aqui foi uma das mais negativas das últimas duas décadas (2004 talvez seja uma concorrente acirrada), e a propaganda contra um lado e outro parece ter surtido efeito.
“Você acha que as campanhas teriam gasto esse dinheiro todo com esses anúncios se eles não fossem eficazes?”, pergunta retoricamente o cientista político. Os especialistas de plantão adoram dizer que a campanha suja desmotiva, mas, neste ano, com os dois lados tão entrincheirados, ela parece ter alimentado ódios e incitado a votar contra.
É triste, mas, seja quem for o vencedor neste ano, será uma vitória pequena, rejeitada por metade da população, conquistada à base de uma campanha que alimentou o medo e amparada muito mais em tática política do que em ideias.
Acho difícil fazre apostas, pois as vantagens são tão apertadas que podem se dissipar facimente em qualquer erro das pesquisas. Mas, por ora, Obama sai na frente. Em todo o caso, ontem, as duas campanhas já armavam suas festas da vitória.