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Eleição nos EUA

Decisão em tempos de crise

Perfil Como os americanos votam. E o reflexo no Brasil, por Luciana Coelho

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Joe & Paul

Por Luciana Coelho
12/10/12 12:47

Biden e Ryan se cumprimentam antes do debate, um raro momento em que o democrata não riu (Reuters)

WASHINGTON – Uma coisa incrível aconteceu na noite de quinta-feira no Kentucky: um debate com substância entre os candidatos a vice-presidente dos EUA. Em tempos de mensagem ensaiada e frases de power point, isso soa tão fantástico quanto o pouso de um disco voador.

Não vou me estender sobre quem ganhou o debate. As pesquisas se dividiram, com um empate técnico com Ryan à frente na CNN, e Biden vencendo entre uma amostragem de eleitores indecisos na CBS. Nada para soltar fogos de nenhum lado.

Acho que o vice-presidente democrata deu respostas melhores e com mais estofo do que o deputado republicano, mas perdeu muitos, muitos pontos com aquelas gargalhadas fora de hora (sério, o que era aquilo? Alguém fez o antidoping depois do confronto?).

Ryan também mostrou segurança e deixou claro que não é nenhum moleque como o oponente tentou pintá-lo, mas, ao contrário de Biden, estava frio até para falar de coisas pessoais. E se perdeu onde não podia se perder, na resposta sobre impostos (o público monitorado pela CNN gostou mais do democrata aí).

No saldo, não me parece que haverá grande mudança nas pesquisas de intenção de voto.

O que me chamou a atenção, porém, foi o contraste entre os dois vices e os titulares de sua chapa. E o debate de quinta foi muito melhor.

Barack Obama e Mitt Romney são mais preparados do que Biden e Ryan, ou ao menos assim pensam seus partidos. Talvez pelo excesso de ensaios, porém, os dois preferiram as evasivas e os ataques  aos detalhes de sua plataforma. O primeiro debate presidencial não revelou nada de substancial sobre os planos de cada um.

Biden e Ryan, pelo contrário, pareciam à vontade. E pareciam ter lido o livro todo, não só o resumo para o vestibular. Talvez porque esse fosse o único debate entre os dois. Talvez porque fosse a chance que tinham para mostrar em rede nacional aos eleitores independentes, no caso de Biden, que não é só uma máquina de gafes, e, no de Ryan, que não é imaturo nem tão radical. Talvez tenha sido a competência impressionante da mediadora Martha Raddatz, da rede ABC, que não deixou nenhum dos dois fugir das respostas.

Fato é que os vices parecem ter assimilado muito melhor o conteúdo das plataformas.

Incrível que isso tenha vindo de dois populistas (Biden à esquerda de Obama, e Ryan à direita de Romney). Entre as não poucas coincidências que os dois dividem, está o fato de virem de cidades com grande população operária — o democrata é de Scranton, na Pensilvânia, e o republicano de Janesville, em Wisconsin.

São católicos devotos, que começaram a trabalhar muito cedo — muito mais cedo do que os titulares de suas chapas — e se elegeram antes de completarem a terceira década de vida. Presidiram comissões respeitadas no Congresso (Biden a de relações exteriores no Senado; Ryan a de Orçamento na Câmara). E ambos têm pendor pelas promessas grandiosas. 

Mais importante, é fácil enxergá-los como dois americanos médios, e empatizar com aquele entre os dois que afine melhor com a sua orientação política.

Obama e Romney, por sua vez, têm experiências de vida esdrúxulas à média da população; Obama com sua vivência multicultural e sua ancestralidade africana, Romney egresso de uma casta política e econômica elevada e devotado a uma religião que enfrenta preconceito. Os dois estudaram em Harvard, os dois foram treinados para ser vencedores, e os dois têm dificuldade para mostrar calor humano.

Debater não é governar, verdade, e o populismo bidenista e ryanista às vezes cansa. Mas os sujeitos formados pelo palanque fizeram um debate com muito mais conteúdo e apelo do que aqueles que aprenderam oratória na melhor (ou uma das melhores) faculdade do planeta e poliram sua retórica com marqueteiros.

Para o debate da semana que vem, sugiro a Barack e Mitt trocar um dedinho de prosa com Joe e Paul.

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A surpresa de outubro

Por Luciana Coelho
10/10/12 14:45

Garibaldo aguarda ansiosamente o debate do próximo dia 16 (Reuters)

DA ESTRADA – Quem diria que a surpresa de outubro — aquele fator estrambólico que aparece para mudar tudo na eleição americana — seria um personagem da Vila Sésamo?

Garibaldo (ou “Big Bird”, no nome americano) virou estrela de discursos e comerciais políticos desde que foi alvo de uma piada de Romney sobre cortar fundos à PBS, a rede pública de TV americana no primeiro debate, dia 4. E o debate, se não tiver revertido definitivamente o desfecho da história, seguramente reverteu a narrativa.

Os dois candidatos passaram a maior parte da disputa tecnicamente empatados. Na verdade, ainda estão. Mas após um impulso da convenção democrata à candidatura de Barack Obama, somado a uma série de comentários desastrosos de Romney ecoados em looping pela mídia, o republicano viu o democrata abrir uma vantagem considerável.

Em um mês (setembro), todos os Estados decisivos estavam a favor de Obama, e o presidente conseguira uma margem de quatro pontos percentuais, em média, de frente nas pesquisas (segundo dados agregados pelo site Real Clear Politics).

Então veio o debate em Denver (que um comentarista político de centro-direita apelidou sabiamente de Rocky Mountain Horror Show, uma brincadeira com o filme clássico e a locação do debate), e a história mudou.

Romney passou de azarão a favorito, o mais hábil e capaz dos dois (ainda que a opinião sobre as plataformas nunca tenha chegado a mudar). Nesta quarta, ele ainda está em empate técnico com Obama, mas aparece 0,8 ponto percentual à frente nas pesquisas nacionais.

O republicano ainda virou a Flórida (por uma vantagem pífia, 0,7 ponto, mas virou) e encolheu as margens de Obama em Ohio e na Virgínia. Essa é a trinca de ouro da eleição americana, os diretores de centros de pesquisa são unânimes em dizer que quem ganha nesses três, leva tudo.

É verdade que faltam dois debates, é verdade que todas as vantagens estão, como sempre estiveram, na margem de erro e é verdade também que as pesquisas nos EUA são ainda menos confiáveis do que em outros países, porque aqui não há como ter certeza de quem votará de fato em 6 de novembro.

Mas também é verdade que o impacto psicológico de toda essa reviravolta é enorme, e pode, sim, afetar a decisão de alguns eleitores sobre votar e sobre em quem votar.

Vejamos: na campanha obamista, o alarme foi soado, e um maremoto de críticas internas emerge — mais ou menos como ocorreu na campanha romnista no mês passado; os números do desemprego, antes tão aguardados, saíram positivos para Obama (queda para 7,8%, patamar em que Obama assumiu), e foram praticamente ignorados.

Quando eu escrevo neste blog sobre o Obama, muitos leitores conservadores são rápidos em dizer que é eco do coro de esquerda, da imprensa progressista etc etc. Bom, está aí a demonstração de que na imprensa de centro e na conservadora acontece a mesma coisa. No mês passado a mídia pintava Romney como apático e lutando para se manter no páreo; agora Obama se vê na mesma posição.

O que eu concluo disso não é que a mídia “liberal” domine o discurso, como alguns reclamam, nem que a mídia “conservadora” distorça a verdade como outros acusam (embora eventualmente haja tentativas dos dois lados).

O problema, o grande problema, é que a mídia americana virou uma caixa de eco imediatista, onde análises nascem como Gremlins e são repetidas à exaustão até que o próximo ciclo do noticiário chegue e vire o disco, para tocar a mesma ladainha, mas com sinais invertidos.

Independentemente de qual dos dois candidatos saia vencedor em 6 de novembro, esta eleição já é um “case” incrível de propaganda e relações públicas para ser estudado de ambos os lados.

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O debate, em uma nota

Por Luciana Coelho
04/10/12 20:08

WASHINGTON – Estou roubando o GIF genial feito pela equipe do Daily Show com o Jon Stewart, que “resume” o debate nas palavras do apresentador  (para os leitores que acham que o Stewart, desbragadamente progressista, é incapaz de criticar o presidente).

 

 

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O executivo e o professor

Por Luciana Coelho
04/10/12 17:49

Obama e Romney se cumprimentam durante o debate, cheio de ataques e sem boas defesas (Reuters)

DENVER/WASHINGTON – Assistindo ao debate na noite passada, no ginásio da Universidade de Denver transformado em centro de imprensa pela organização (pouquíssimos jornalistas podem entrar no auditório), uma ideia nao saia da minha cabeça: quem estava ali, debatendo, eram o executivo e o professor.

As identidades primeiras de Mitt Romney e Barack Obama — ou segundas, porque as primeiras talvez sejam mesmo a política — ficaram evidentes no estilo retórico, no modo de abordar a questão e até nos pontos em que um e outro parecia enfadar-se com o oponente.

Para Obama tudo tinha de ser muito claro e analítico, um tom sóbrio de quem está explicando como o mundo é, de acordo com sua visão, goste você ou não. Para Romney era importante “vender” suas ideias, embalá-las bem e mostrar que elas poderia, afinal, ser úteis a todos.

Nos dois casos, era importante jogar dados, muitos dados, muitos números, e impressionar, mesmo que nem sempre esses números tivessem base na realidade. O importante era mostrar domínio da situação. E da plateia.

Nesse ponto, não vou fugir à opinião geral de que Romney, na maior parte do tempo, saiu-se melhor que Obama. Foi um vendedor eficaz — charmoso, objetivo, empático, firme. Obama parecia cansado, às vezes até condescendente com o rival e o público, como um professor cujos alunos excessivamente distraídos demoram para absorver um determinado conceito. Romney sorria, Obama balançava a cabeça e olhava para o chão.

Retórica — e estilo — são parte do estofo de um debate presidencial televisionado, e, em boa medida, o que atrai atenção para o show. A campanha de Obama, nesta quinta-feira, admitiu que o oponente republicano saiu-se melhor nesse quesito, como fizeram a maior parte dos analistas e, segundo as primeiras pesquisas, os eleitores.

É um feito importante para Romney, que vinha rateando nas últimas semanas e atraindo críticas dentro de sua própria base. Independentemente do efeito concreto do debate nas pesquisas de intenção de voto (e neste momento qualquer resposta é chute), ele serviu para mostrar à base conservadora que seu candidato está no páreo, disposto a ganhar.

Mas debate não se resume só a retórica, trata também de substância política. Neste ponto, não consigo apontar um vencedor. Perderam os eleitores. Tanto Romney quanto Obama pareciam mais dispostos a criticar a plataforma do adversário do que explicar a sua própria, mesmo quando confrontados pelo rival, mesmo quando atacados.

Eu não consegui até agora entender o que é que Mitt Romney faria de tão eficaz para mudar a rota dos EUA e levar o país de volta à bonança (eu não consegui entender nem qual versão de Romney trabalharia no Salão Oval, se o moderado compassivo de ontem ou o ultraconservador inflexível do restante da campanha).

Tampouco consegui entender o que Barack Obama faria tão diferente do que tem feito até agora — ok, o estrago poderia ter sido pior após o estouro da crise de 2008, mas ater-se a isso quatro anos depois é uma visão estreita, como se os anos no poder tivessem apequenado as ambições do presidente. Eu não entendi o que vai mudar para que o país passe da fase de controle de danos para a retomada real.

Não foi um debate memorável, pelo contrário. Foi chatíssimo, às vezes longo demais (o mediador Jim Lehrer resolveu apenas propor tópicos e deixar os dois sozinhos no ringue). Obviamente nem Obama nem Romney têm a simpatia de seus antecessores, nem a graça, nem tiradas boas o bastante para serem lembradas para além deste ciclo eleitoral (desculpe, Garibaldo).

Para parafrasear uma dessas anedotas, dita pelo senador democrata Lloyd Bentsen republicano Dan Quayle em em um debate entre os candidatos a vice em 1988: Mr. Obama, o senhor não é nenhum Jack Kennedy. E o senhor, Mr Romney, não é nenhum Ronald Reagan.

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Cinco focos para o debate

Por Luciana Coelho
03/10/12 21:45

O palco do debate, poucas horas antes de ser ocupado por Romney e Obama (AP)

DENVER, COLORADO – Barack Obama e Mitt Romney se enfrentam nesta noite no primeiro de três debates entre os candidatos à Presidência (os outros serão nos dias 16 e 22). 

Segundo estrategistas e pesquisadores que tenho ouvido nos últimos dias (e também segundo a história dos debates), o evento desta quarta aqui na Universidade de Denver pode ter peso considerável na campanha, que entra em sua reta final — são só mais 34 dias até a eleição. Isso dependerá, porém, de algumas coisas:

1) Desvantagem se converte em vantagem no palco —

— 2 em cada 3 eleitores esperam que Obama se saia melhor, o que inclui eleitores republicanos. Afinal, como simplificou Bruce Haynes, da Purple Stategies, Obama É o presidente, e tem um acesso incomparável às informações sobre o governo e sobre governar. Romney não precisa nem ser melhor nesta noite: se aos olhos do público ele mostrar tanto domínio de cena e do discurso como o presidente, é capaz de reverter a vantagem de quatro pontos aberta pelo democrata nas últimas semanas e reavivar a fé em sua campanha;

2) O teste da cerveja —

— Obama parece frio e calculista; Romney parece sem jeito e robótico. Debate é sobre substância política, mas, como tudo que envolve câmeras, é também um concurso de personalidades. Se Obama soar menos professoral e se Romney soar menos elitista, talvez os eleitores até sintam vontade de tomar uma cerveja com  um dos dois — algo que deu bom impulso às candidaturas de George W. Bush e Bill Clinton no passado. Assessores de Romney declararam que ele está treinando tiradas engraçadas. O risco é ele virar alvo dos humoristas depois;

3) O contrabando de assuntos —

— A melhor arma de Romney contra Obama neste momento seria questionar sua política para a Líbia, após emergirem problemas de estratégia no antes e no depois do assassinato do embaixador Chris Stevens por extremistas, dia 11. Só que o debate, pelas regras, é só sobre questões domésticas, sobretudo economia. Romney e seus estrategistas terão de fazer uma manobra genial para evocar a Líbia aí;

4) Respeito mútuo —

— um dos maiores sucessos das convenções partidárias foi o apelo de Bill Clinton para mais diálogo entre os partidos, diante do nível de polarização a que se chegou. Isso ressoou entre o eleitorado. Tanto Romney quanto Obama trocam acusações sobre quem baixa o nível (eu respondo: os dois, e muito). A ver se nesta noite eles serão capazes de concordar sobre algum assunto — sobretudo, vejamos como eles repartirão os créditos sobre o plano de reforma do sistema de saúde;

5) O mediador —

— Jim Lehrer, da rede pública PBS, é um decano do jornalismo televisivo americano, e a tendência é que seja um mediador preciso, incansável e imparcial neste debate (seu 12o., aliás!). Até agora, muito da campanha dos dois lados foi de blablablá e promessas vagas, sem especificidades sobre como se atingir os objetivos. Lehrer controla o tempo, as perguntas e quando uma resposta acabou (se foi satisfatória ou não). Esperemos que ele cobre de Obama e Romney mais clareza e menos promessas genéricas.

Ao contrário do que houve nas primárias, desta vez a plateia tem de ficar quietinha. Lehrer mandou Michelle Obama e Ann Romney anotarem o nome de quem se comportar mal.

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Perdendo a fé

Por Luciana Coelho
01/10/12 17:57

Romney precisa ir bem nos debates para convencer eleitores de que segue firme no páreo (Foto: Associated Press)

WASHINGTON – Faltam apenas 36 dias para as eleições e a campanha de Mitt Romney se depara com o seu maior desafio até agora: reverter a narrativa dominante de que ele vai perder e convencer o eleitorado — e os financiadores — a não desanimarem.

Goste-se ou não da plataforma democrata, a convenção do partido de Barack Obama foi muito mais eficaz ao passar sua mensagem. Tão eficaz que, em menos de um mês, a sensação de disputa acirrada cujo desfecho era uma enorme incógnita, de que seria muito, muito difícil para o presidente vencer com a economia rateando e sua popularidade combalida, parece ter se dissipado.

A narrativa de que a campanha de Romney está desacreditada passou a dominar a cobertura de mídia nas últimas semanas, e não só na imprensa progressista ou de esquerda. Veículos independentes e mesmo colunistas conservadores apontam problemas na condução da campanha do republicano — da escolha de Clint Eastwood para um enigmático monólogo durante a convenção até o comentário sobre metade do eleitorado querer depender do governo e ser, portanto, inatingível para a mensagem republicana.

Para azar de Romney, essa percepção parece estar calando no público. E aí não se trata de opinião, mas de números. E de dinheiro também. No site Intrade, que funciona como uma bolsa de apostas eletrônicas, as chances de Obama saltaram para 75% .

Para piorar, em uma pesquisa do site The Hill,  53% dos eleitores, independentemente de sua opção de voto, afirmaram achar que o presidente vai se reeleger. Antes da convenção democrata, apenas 43% acreditavam nessa possibilidade, enquanto outros 46% afirmavam que Romney sairia vitorioso (os 11% restantes não sabiam).

Seria puro “achismo”, inofensivo, se não fosse por um detalhe: o voto nos EUA não é obrigatório. Muitos eleitores podem simplesmente desistir de votar, se acharem que seu candidato não tem chance.

Da mesma forma, os doadores de campanha também podem ser levados a parar de dar dinheiro ao presidenciável e passar a focar recursos nas disputas mais acirradas por cadeiras do Senado, onde é possível reverter a vantagem democrata.

A chance de Romney reverter esse cenário está nos debates: um nesta quarta, o segundo no dia 16 e o terceiro no dia 22.

Para azar do candidato republicano, porém, o primeiro debate aborda apenas questões domésticas, sobretudo economia — quesito em que a avaliação do governo melhorou ligeiramente nas últimas semanas. Não é um campo ruim para Romney, mas o impede de acionar o que seria hoje sua principal frente de ataque: a Líbia.

O flanco mais frágil de Obama hoje é justamente a política externa (sim, é uma reversão do cenário do mês passado), com as crescentes dúvidas a respeito da estratégia americana e se os problemas no país africano foram subestimados, expondo o embaixador Chris Stevens, morto em Beghazi no último dia 11, desnecessariamente.

Romney sempre pode usar os comerciais de rádio e TV, claro. Mas os debates são acompanhados com mais atenção e por uma parcela maior para a população. Esperar até o dia 22 para abordar a política externa do presidente pode acabar sendo tarde demais para o republicano, se ele não conseguir nada que vire o jogo mais cedo.

*

Que os leitores me desculpem pela ausência. Estava no Texas, escrevendo sobre como a região de fronteira está tentando crescer à revelia do que propõem Obama e Romney. O resultado, para quem quiser ler,  está aqui: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/69157-fronteira-eua-mexico-vive-recuperacao.shtml

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Obama na ONU

Por Luciana Coelho
27/09/12 08:22

For Many, Expectations for Obama Unmet

EM TRÂNSITO* – Barack Obama fez um discurso bonito na última terça na ONU, surpreendentemente conciliador (dado que ocorre tão pouco tempo após a eclosão dos protestos antiamericanos no Oriente Médio) e, ainda assim, firme em defender as ideias americanas.

Além de pedir tolerância, cobrou também coerência (“O futuro não pode pertencer àqueles que difamam o profeta do Islã. Para que tenham credibilidade, porém, os que condenam essa difamação também devem condenar o ódio que vemos quando a imagem de Jesus Cristo é profanada, igrejas são destruídas, o Holocausto é negado”) e união (“juntos, podemos trabalhar por um mundo onde somos fortalecidos por nossas diferenças, e não definidos por elas”).

O presidente-candidato marcou as posições de Washington (ou, ao menos, de seu governo), disse que o futuro, no conflito israelo-palestino, não deve pertencer àqueles que dão as costas à perspectiva de paz (o que soou como uma leve alfinetada em seu rival republicano) e tentou pintar um quadro no qual o copo, no Oriente Médio, está meio cheio, já que líbios, egípcios e tunisianos agora votam.

Escaldado por quase quatro anos de Casa Branca, admitiu também que democracia não se resume ao direito de votar.

Arrisco dizer que foi um dos melhores discursos que Obama já fez, resgatando o tom perseverante do início do governo, mas tornando-o um pouco mais sóbrio, amadurecido pela experiência no poder.

Não necessariamente essa evolução condiz com a evolução de sua política externa. Suas ações, nesse campo, sempre me pareceram menores do que suas palavras, e, depois de quatro anos, parece ser esta a percepção dominante ao redor do mundo (especialmente no Oriente Médio).

O centro de pesquisas Pew, um dos mais respeitados e equilibrados dos EUA, fez seu levantamento sobre atitudes globais e captou que a avaliação do presidente americano — se a política externa dele levou em conta o interesse de outros países, se ele tem sido equilibrado na questão israelo-palestina — não é das melhores. Há uma clara decepção.

 (A notar: os brasileiros são os mais otimistas na pergunta sobre Obama levar em conta seu país, com 55% de respostas positivas. Só os chineses foram também majoritários no “sim”, com 51%, mas aí desconfio que o motivo seja a rixa entre os dois.)

Mesmo assim, em muitos lugares — sobretudo na Europa — ainda há apoio à sua tentativa de reeleição. A exceção é o Oriente Médio, onde a opinião geral é a de que o democrata não merece outro mandato (a pergunta foi apenas focada em Obama, não houve menção a Mitt Romney como alternativa).

Nesta semana, também, o Gallup divulgou um levantamento segundo o qual o percentual de americanos que afirma que confia no governo para solucionar os problemas externos é o mais alto desde 2003, quando eclodiu a guerra do Iraque (66%).

Deixada de lado durante a maior parte da campanha, a política externa será tema do terceiro dos três debates entre Obama e Romney, na Flórida, em 22 de outubro.

(* trabalhando em uma reportagem especial em outro Estado — posts a respeito virão após meu retorno) 

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O voto do Homer

Por Luciana Coelho
21/09/12 18:35

WASHINGTON – Este título é literal, antes que os leitores me chamem de Bonner. Matt Groening, criador da série “Os Simpsons”, divulgou nesta sexta um clipezinho do episódio que vai ao ar no dia 30, no qual Homer vota.

E o candidato escolhido é… Mitt Romney. O desenho faz uma série de alusões aos estereótipos mais arraigados de cada lado (inclusive sobre a religião de Romney). Lembro que em 2008 Homer tentou votar para Obama e a urna o impedia.

Como é só um desenho animado, não vou estragar a graça da coisa tornando o assunto sério. Fiquem com o clipe e a tradução. Bom final de semana!


YouTube Direkt

Homer: Outra eleição? Por que temos de escolher nossos líderes? Não é para isso que temos a Suprema Corte?

*

Mesário: Se você vai votar, precisamos de um documento de identidade com foto [nos EUA não há RG, e leis mais restritivas passaram a exigir documentos como carteira de motorista ou passaporte, que nem todos têm].

Homer: Mas eu morei aqui a vida toda!

Mesário: Impedir que todos americanos votem serve para proteger todos os americanos!

Homer: Mas eu sou um cara de 40 anos branco que não fez faculdade e só vê notícias nos monitores dos postos de gasolina.

Mesário: Então beleza.

*

Homer: Barack Obama? Não sei, já tenho uma mulher para dizer que preciso comer coisas saudáveis [alusão ao programa de alimentação e exercícios da Michelle Obama — obrigada à leitora Jessica pelo ouvido apurado!]. Além disso, ele prometeu “paineis da morte” [jargão criado por Sarah Palin, que dizia que Obama criaria juntas de burocratas para decidir quem merecia ou não atenção médica] e vovô ainda está vivo.

Mitt Romney. Hm. Ouvi dizer que ele usa uma cueca mágica [alusão às vestimentas de simbolismo religioso que os mórmons usam sob as roupas]. Eu achava que o líder do mundo livre nem deveria usar cueca. Fora que o cavalo dele foi mal nas Olimpíadas. Por outro lado, ele inventou o Obamacare [obrigada aos leitores que corrigiram o “did”!].

Urna: Obrigada por votar em Mitt Romney. Agora você pode ver a declaração de renda dele.

Homer: Uau. Dedução médica por implante de personalidade. E ele tem seis mulheres, todas chamadas “Ann”. E o governo pagou impostos PARA ele! Por cinco anos! Tenho de contar para a imprensa.

*

Urna: Você agora está sendo terceirizado.

Homer: Odeio ser sugado.

EM ALGUM LUGAR DA CHINA

Homer: Ao menos consegui um emprego fixo.

 

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O peso da gafe

Por Luciana Coelho
20/09/12 08:29

Mitt segue no páreo, mas o trabalho dos marqueteiros será redobrado (AP)

WASHINGTON – Variando entre o estupefato e o embevecido, alguns jornais e sites americanos tentam enterrar a candidatura do republicano Mitt Romney por conta de sua incontrolável língua. A mais de seis semanas da votação, porém, veredictos são precipitados (quando não wishful thinking do colunista).

É fato que a língua e a falta de tato Romney lhe custarão votos. Quantificar é chutômetro. Dificilmente os comentários do candidato no vídeo do post abaixo vão demover um conservador de votar nele — um conservador socialmente sensível, talvez, mas há boa chance de que este já estivesse persuadido a simplesmente não votar.

Li muitas críticas da direita a Romney, e endosso aquelas sobre o erro que é estimular a polarização. O candidato também se viu às voltas com perguntas de seus doadores (a ponto de a campanha ter, segundo o “Wall Street Journal”, convocado uma teleconferência para explicar como prosseguirá). Obama & cia ganharam uma arma para usar em comerciais.

Mas quanta gente mudaria de ideia sobre o candidato? Ou o vídeo só ajudou a arraigar percepções? Romney de fato alienou uma fatia expressiva do eleitorado independente E indeciso, tão minguada em uma eleição polarizada assim?

O Gallup fez uma primeira tentativa. Em pesquisa-relâmpago com 885 eleitores na terça, aferiu que 29% dos independentes (que são 40% do eleitorado do país) se tornaram MENOS inclinados a votar em Romney após os comentários, enquanto 15% se tornaram MAIS inclinados.

Como o instituto avalia que nas fileiras partidárias os votos já estão fechados mesmo (inclusive o daqueles que votam contra o candidato do próprio partido), são esses independentes que contam. Estamos falando de uma diferença de 14 pontos percentuais dentro de 40% do eleitorado, o que equivaleria a uma margem de 5,6 pontos do total. Se considerarmos que 60% destes votem de fato (em linha com os índices médios de participação em eleições presidenciais), são 3,36 pontos.

Não é uma vantagem desprezível em eleição tão acirrada — os candidatos estão tecnicamente empatados na maioria das pesquisas, embora Obama comece a se descolar da margem de erro em algumas delas e a consolidar uma pequena vantagem. Em 2008, o democrata venceu o republicano John McCain por sete pontos, algo impossível de se reproduzir neste ano até para o mais otimista dos estrategistas democratas.

Só que essa matemática toda é duvidosa.

Primeiro, é preciso ver onde estão esses eleitores independentes. Se estão em Estados já convictos sobre sua preferência democrata ou republicana, a margem é insuficiente para virar o jogo. Seria preciso que eles estivessem todos em Estados-pêndulo, aqueles que oscilam entre um partido e outro a cada eleição, para fazer diferença — algo estatisticamente improvável.

Segundo, é preciso ver quem de fato vai votar. Usei 60% na conta por ser o patamar histórico — é possível que com o moral do eleitor tão baixo, menos gente vote, sobretudo entre os descomprometidos com os partidos.

Terceiro, a memória é curta. É provável a campanha de Obama faça o possível para manter o episódio fresco na cabeça de todo mundo, mas, a 48 dias da eleição e com um ciclo noticioso tão frenético, vai saber o que acontecerá e de que cada um lembrará na hora de encarar a urna.

Por fim, a pesquisa não afere, entre os independentes, quantos dos que se disseram mais propensos já iam votar em Romney mesmo, e quantos dos que já o rejeitavam se disseram menos inclinados ainda.

O problema republicano então passa a ser outro: convencer os doadores de que Romney ainda tem chance no páreo (porque cofre seco mata qualquer campanha) e convencer seu eleitor cativo a não desanimar (porque voto nos EUA é optativo). A equipe de campanha tem focado nisso — inscrita no site de ambos os candidatos, recebi uma enxurrada de e-mails de cada lado tentando me persuadir da importância/desimportância do vídeo.

Vai colar? Não sei. Só arrisco uma previsão: a gafe de Romney, queira ele ou não, aumentará o peso da propaganda dos dois lados nesta campanha. E diminuirá o da política em si.

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Como se autossabotar

Por Luciana Coelho
17/09/12 22:47

WASHINGTON – Era para ser uma campanha promissora para Mitt Romney, o candidato republicano que emergiu de uma disputa acirrada nas primárias partidárias como o mais centrado e competente entre seus pares.

A economia patina. A popularidade de Barack Obama deu lugar, em boa medida, à decepção. O sucesso democrata em levantar fundos ainda não se repetiu. E a polarização partidária deu aos anti-Obama uma enorme motivação para votar.

Eis que Romney, um sujeito conhecido — ou que tenta se fazer conhecer — pela eficiência como executivo consegue varrer para o lixo o que seria vantagem. Não, Romney não tem nenhum segredo sórdido, nenhum chefe de campanha maluco e nenhum vice despreparado.

O candidato fez tudo sozinho, no presente, conscientemente e com a própria língua.

Sua empreitada mais recente pela autodetonação é o vídeo, levado ao ar pela revista de esquerda “Mother Jones” (acima) e feito com uma câmera secreta, por uma fonte mantida em anonimato, no qual ele diz para potenciais doadores de campanha que “não se importa” com uma parcela de 47% do eleitorado que, a seu ver, vota em Obama faça sol ou chuva, não paga impostos, depende do sistema etc etc. O tom é de desdém.

Não me parece que Romney esteja afirmando que, caso seja eleito, vai desprezar essas pessoas (embora alguns pontos da plataforma republicana me deixem em dúvida). O que entendi é que ele não se importa em conquistar os votos dessas pessoas porque elas já são, para ele, um caso eleitoral perdido.

Mas não importa. Esta campanha está sendo feita de comerciais negativos.

Da mesma forma que a campanha de Romney pegou uma frase de Obama dizendo que o sucesso individual é produto também de uma sociedade bem estruturada e transformou em uma afirmação de que o presidente acha que o Estado é o grande responsável pelas conquistas pessoais, não passará um dia para a campanha democrata pegar a frase de Romney e dizer que ele está se lixando para os pobres e vai ignorá-los se eleito.

Outra coisa. Por mais que o candidato queira ser pragmático e direto com quem banca sua campanha, não é politicamente — e muito menos eticamente — saudável você assumir que seu discurso se volta para apenas uma parte do eleitorado.

Romney não merece levar o (des)crédito sozinho. Esta eleição está polarizada de tal forma que parece realmente que as campanhas viraram apenas um amplificador que alterna raiva da oposição e discurso para base (possivelmente, para um ou outro centrista contemplativos — estes, cada vez mais escasso).

Mas ao colocar o pensamento eleitoral pragmático em palavras, por mais que em um evento privado (só que com gente demais para achar que seria tudo segredo), Romney atrai para si toda a antipatia do cidadão classe-média-baixa, das pessoas que mal fecham as contas no fim do mês, dos revoltados com a desigualdade e das pessoas preocupadas com essas pessoas. De quebra atrai também a ira de políticos e estrategistas que sabem que uma mensagem de campanha precisa ser o mais inclusiva possível.

Sim, o bordão de que “corporações são pessoas”, dito no início da campanha, virou piada e teve impacto entre o eleitorado progressista, mas é difícil crer que um centrista (ou menos ainda um liberal) tenha mudado de lado por causa da declaração.

Chamar metade da população americana de irresponsável e dependente, porém, e culpar 150 milhões de pessoas por terem dificuldades em pagar as contas é atingir um novo grau de falta de noção. Um grau, talvez, irremediável.

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