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Eleição nos EUA

Decisão em tempos de crise

Perfil Como os americanos votam. E o reflexo no Brasil, por Luciana Coelho

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O passado à porta

Por Luciana Coelho
11/09/12 13:54

Bill e Hillary Clinton após ele vencer as primárias democratas em 1992: 2016 pode revisitar o passado, dos dois lados (Associated Press)

WASHINGTON – Ok, Bill Clinton é hipócrita quando critica a zona que virou o sistema financeiro. Ok, Bill Clinton mentiu sob juramento (sobre sua vida pessoal, mas, enfim). E Bill Clinton, apenas discursando na convenção, provocou um pico de doações para Barack Obama.

É um feito que nem Barack Obama conseguiu repetir para ele mesmo — e ninguém do lado republicano conseguiu por Mitt Romney. Por que isso?

Clinton é excelente orador. Até aí, a retórica de Obama é sofisticada e bem construída;  Romney conseguiu expôr sua proposta com a eficiência que prega como sua maior qualidade; Michelle Obama e Ann Romney falaram com paixão (em todos os sentidos); Julián Castro injetou alguma esperança em uma temporada eleitoral que parece, independentemente do desfecho, preparar o eleitor para más notícias; e Paul Ryan conseguiu apelar às bases conservadoras sem solapar a lógica.

O truque que nenhum deles conseguiu foi alinhavar racional e emocional como o ex-presidente fez.

Essa é a explicação óbvia, mas há algo mais profundo aí. Repetirei eternamente que nem Obama nem Romney são ineptos. Os dois, porém, sofrem com um problema de confiança do eleitor.

Obama porque prometeu demais e não cumpriu nem metade. Parte disso foi freada no Congresso — pela oposição. Mas, no fim, o que vale é que o presidente não teve cacife para bancar sua própria aposta. E nem todo mundo está disposto a pagar para ver outra vez.

Romney porque não dá para ter ideia de qual versão do republicano assumiria o cargo,  em uma eventual Presidência Romney. O moderado ex-governador de Massachusetts ou o direitista inflexível em que ele se converteu em campanha? A ala ultraconservadora teme o primeiro, o eleitor independente teme o segundo.

Eleitor, em qualquer lugar, tem memória curta. A lembrança que ficou de Clinton, portanto, é do último período de bonança dos EUA.

A linha de ataque republicana tem sido a de que os americanos não vivem melhor hoje do do que viviam há quatro anos. Péssima ideia para eles. Além de questionável (o Gallup, aliás, levantou números que a desmentem) , obriga o eleitor a pensar qual foi a última vez que ele sentiu que vivia bem. E não foi sob George W. Bush — 3 em cada 4 americanos o culpam pela crise, bem mais do que os 48% que associam a degringolada econômica a Obama.

Há um terceiro ponto explicar esse saldo: autoestima. Se alguém tem dúvida da autoconfiança de Clinton, é só dar uma olhada no desprezo dele pelo teleprompter durante o discurso na convenção (aqui)

Ok, seria ridículo achar que alguém chega aonde Obama ou Romney chegaram sem ter autoestima. Mas, às vezes, examinando a evolução de Obama no governo ou de Romney em campanha, tenho a impressão de que eles estão seguindo as orientações de algum “focus group” desfocado. Sabem, aqueles grupos-teste de consumidores que acabam, hoje em dia, ditando os rumos de uma novela, o final de um filme ou o melhor nome para um produto? Então.

Tanto Obama como Romney parecem confiar pouco em seus instintos. Ou talvez eles não tenham um instinto político tão aguçado como tinha Clinton (opositores reconhecem sua capacidade de dobrar eleitores, aliados e inimigos. Levante a mão quem enxergar a mesma capacidade em Obama ou Romney). Isso faz falta.

Esse, achou eu, é o maior saldo das convenções partidárias. Idealismo é importante, eficiência é importante, mas habilidade para dosá-los é fundamental. E, se há uma coisa que esta campanha eleitoral tem provado é que não se faz mais política nem políticos como (nem tão) antigamente.

*

Se isso é bom ou ruim, a pergunta caberá ao eleitorado em 2016. Clinton, claro, não é candidato. Mas a mulher dele, daqui a quatro anos, talvez seja. E do lado republicano? Bom, Jeb Bush é um nome bem, BEM forte.

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O talentoso Mr. Clinton

Por Luciana Coelho
06/09/12 13:56

Clinton recebe um “obrigado” de Obama após o discurso em Charlotte (Associated Press)

CHARLOTTE, CAROLINA DO NORTE – Bill Clinton tem 69% de popularidade hoje, e esse número não é por acaso.

Ok, piadas à parte, não é mesmo.  Com seus improvisos, seu sotaque sulista e sua linguagem direta, o ex-presidente democrata (1993-2001) roubou não só a noite desta quarta. Ele roubou provavelmente a convenção toda (o que é tipicamente clintoniano). Ou a temporada de convenções toda, republicanos incluídos.

Seu discurso foi hábil, empolgante, fluido e, em vários pontos, informativo (certamente o foi no momento em que ele esclareceu que o governo Obama não cortou, mas aumentou, as exigências de busca de trabalho para receber o seguro-desemprego. Outros trechos, verdadeiros, receberam um recorte favorável ao partido, porque obviamente o objetivo de tudo isso é fazer os democratas saírem bem na foto).

E aí está a genialidade retórica de Clinton — você pode não concordar com o sujeito em algumas coisas (ou em nada, dependendo de sua posição), mas não há como não achar que o que ele diz faz sentido. Do lado republicano, hoje, só Paul Ryan tem uma habilidade lógica do tipo, mas ainda está longe de ter o mesmo carisma.

Não há como não prestar atenção no que ele está dizendo e refletir a respeito. Clinton fez um governo longe, muito longe de perfeito, mas seu apelo à razão do eleitor, deixando de lado questões mais emocionais como aborto, religião, casamento gay, sindicalismo e outros temas que os democratas defenderam por toda a convenção, fala diretamente a quem não se registra em nenhum dos partidos.

Ele é o campeão do cervejômetro — aquela pergunta desgastada, com qual presidente/candidato/político você preferiria tomar uma cerveja.

Ao mesmo tempo, a figura do ex-presidente que soube navegar numa maré boa e deixou o governo marcando o último período de bonança dos EUA (a desregulamentação que ele promoveu no setor financeiro estouraria na mão de Bush e Obama, afinal) é, sozinha, um apelo emocional. Do lado republicano, seria meio como ressuscitar Reagan. Sua simples presença ali no palco já remete o eleitor a um tempo de vacas mais gordinhas.

E o truque cênico de se curvar a Obama e dizer que lhe passa a bandeira do partido? É o equivalente a dizer “se você confia em mim, confie nesse cara aqui”.

*

O leitor Edson pediu mais clima de rua no post. Esses dias têm sido lotados, mas aqui vai um pouco:

O chamado perímetro de segurança — a área em torno da arena onde ocorrem os discursos — foi fechado cerca de 90 minutos antes de Clintos subir aos palcos. Motivo: lotação esgotada. Notem que o discurso de Michelle Obama teve casa cheia e foi aplaudido, mas não foi necessário barrar ninguém por problemas de superlotação. São 20 mil lugares.

Nas ruas de Charlotte, depois que ele falou, o clima era de festa. As pessoas circulavam com um sorriso no rosto. Os bares e restaurantes estavam cheios — era meia-noite, é um dia de semana, e isso é muito, muito incomum nos EUA, como quem vive aqui sabe. As ruas estavam lotadas. Nos bares de esportes, as TVs estavam todas ligadas nos diferentes noticiários, que mostravam repetidamente a imagem rosada e ex-gorducha do ex-presidente. Parecia que estava todo mundo achando que o Obama tinha ganho, ali, a eleição.

Boa parte desse público era de representantes partidários, boa parte era de gente comum, querendo participar. Diferentemente da convenção republicana, os democratas aproveitam seu evento não só para “vender” seu candidato, mas para promover todo tipo de ativismo de esquerda — feminista, pró-gays, pró-imigrantes — e o mais importante de todos eles, registrar gente para votar (aqui, isso não é obrigatório).

 Sabemos, pelas pesquisas, que Obama se ampara em muito no voto das minorias. Ele é preferido por cerca de 90% dos negros, dois terços dos latinos, cerca de 60% dos jovens (esta minoria, aliás, começa a se esvair) e pouco mais da metade das mulheres (que já deixaram de ser minoria). Isso fica claro aqui em Charlotte. Claro que há homens brancos, mas eles não são majoritários como na convenção republicana.

No caso específico dos negros, eles parecem irredutivelmente dispostos a dar outra chance para Obama só pelo por causa do que ele representa. Sim, as pessoas ainda se comovem falando disso.

Perguntei a um taxista (negro) em quem ele votaria. “Você sabe em quem eu voto”, ele retrucou. “Mas você não se desapontou com o governo Obama?”, perguntei. “Um pouco. Mas ele ainda é o meu chapa.” (He is still my man).

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Os sem-noção

Por Luciana Coelho
05/09/12 15:40

Michelle, cujo discurso (e o vestido) foram elogiados (foto:Reuters)

CHARLOTTE, CAROLINA DO NORTE – Michelle Obama subiu ao palco da Time Warner Arena na noite de ontem para falar do marido e, como fez Ann Romney na convenção republicana, pedir a confiança do eleitor e explicar que se casou com um bom sujeito, veja só sua história de vida etc etc.

As duas cumpriram o papel lindamente.

O que diferenciou o discurso da primeira-dama titular do da aspirante é que Michelle (ou os redatores de seu texto) usou, de forma inteligente, os episódios da vida de Obama não só para mostrá-lo como um cara de bom caráter, bem-sucedido e boas intenções (como fez Ann), mas para mostrar que Barack é “gente como a gente”.

Mais do que isso: para mostrar que as decisões políticas do marido se voltam para a classe média porque ele, supostamente, viveu o que a classe média vive (“éramos tão jovens, tão apaixonados e tão duros!”, lembrou Michelle).

E dá-lhe episódios envolvendo contas de médico, empréstimos para pagar a faculdade saldado só muitos anos depois, e o testemunho de ter em casa uma mãe (no caso dele, uma avó) que trabalhava fora mas recebia menos que os colegas simplesmente porque era mulher.

Isso tudo, claro, não é uma reminiscência inocente, tampouco uma apresentação ao eleitor democrata, que a essa altura é capaz de recitar a história de vida do presidente, alvo de ao menos quatro boas biografias, de trás para frente. A ideia é contrastar as agruras de Barack com a suposta “vida fácil” de Mitt Romney, o homem de US$ 250 milhões cujo nome não foi citado nenhuma vez pela primeira-dama.

Calma. Só estou seguindo a linha de argumentação democrata. Já disse aqui que acho uma bobagem se ater ao discurso de que é um problema Romney ser rico — afinal, estamos em um país que preza o sucesso, e até onde se sabe o ex-governador de Massachusetts ficou rico trabalhando, não herdando e muito menos roubando.

Mas o gênio do discurso democrata é dar um tempo na rixa ricos vs. pobres (ok, eles não acabaram oficialmente com isso, mas evitaram ontem à noite) e mostrar que uma experiência de vida classe-média pode ser mais útil do que uma experiência de vida classe-alta na hora de tomar decisões que afetam a classe média — especialmente quando a versão que a situação apresenta de Romney é a de um sujeito que nunca teve problemas (o que não é verdade). No fim, sabemos, o voto que mais pesa é o desta fatia do eleitorado.

O curioso disso tudo é que, apesar do antagonismo exacerbado entre os dois partidos, as convenções são gêmeas em seu intento. Mostrar que o partido tem soluções para a economia? Mostrar que seu candidato compartilha dos verdadeiros valores americanos? Nada disso. O intento em Tampa e aqui em Charlotte é mostrar que o sujeito do outro lado — Obama lá, Romney aqui — é um sem-noção.

Perdi as contas de quantas vezes ontem à noite ouvi algum dos oradores democratas dizer que “Romney não entende” (“Romney doesn’t get it”, como afirmou Julián Castro, o orador-estrela da noite) ao falar de algum perrengue cotidiano ou da reforma da previdência ou do sistema tributário ou da nova lei da saúde.

Da mesma forma, perdi a conta de quantas vezes os republicanos pintaram Obama como um cara que só viaja, promete coisas impalpáveis, usa palavras bonitas mas não sabe nem por onde começar.

Claro que se algum dos dois fosse desprovido de bom senso, ele não teria chegado aonde chegou. Mas se acreditarmos nas campanhas, neste ano temos em confronto dois sem-noção.

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Charlotte vs. Tampa

Por Luciana Coelho
04/09/12 13:57

A festa de rua em Charlotte, com direito a comida típica do sul e a shows como o de Janelle Monae

CHARLOTTE, CAROLINA DO NORTE — Em meio às frases de efeito, promessas, plataformas rasas e os ataques aos adversários que estão pautando esta campanha presidencial nos EUA de ambos os lados, uma coisa me chamou a atenção nesta eleição: o envolvimento popular.

Falatório partidário à parte, a comparação entre o que aconteceu em Tampa e o que acontece em Charlotte é chocante.

Não estou falando que os republicanos não tenham apoio amplo da população, nada disso. Eles têm uma extensa base popular, sim, e animada. A questão que me chamou a atenção está dentro da convenção — no comício/missa do Tea Party, afinal, que acontecia paralelamente e à revelia da direção do partido, tinha muita gente animadíssima.

Mas os corredores em Tampa eram quase exclusivamente preenchidos por gente branca, mais velha, de classe média e média alta. Os delegados — os representantes partidários encarregados de nomear oficialmente o candidato — também só apareciam na convenção na hora das sessões oficiais, depois das sete da noite.

Em Charlotte, aquele chavão de ªfesta da democraciaº parece fazer sentido. Não digo que haja ainda uma megaempolgação nacional com o governo Obama, porque não há.

Mas é incrível como a cidade se encheu com simpatizantes democratas de todas as cores, credos e idades. Uma cena flagrada no banheiro: uma jovem delegada muçulmana de Utah (Estado predominantemente mórmon), véu na cabeça, conversava com uma de Guam, de feições asiáticas (na convenção republicana até a delegação de Guam tinha mais brancos), bem velhinha.

O componente racial também continua forte. Na festa de rua armada pela convenção ontem — na verdade é uma festa que ocorre anualmente em Charlotte, mas neste ano ela foi planejada para casar com a convenção — a maioria dos frequentadores era negra, de todas as idades e classes sociais. Latinos também há muitos. Grupos de direitos gays fazem campanha. Ativistas de direitos trabalhistas, também. E até cadeirantes, não contemplados pelas plataformas presidenciais, eram numerosos por aqui.

Que mais? Todo mundo chega cedo, para participar das assembleias e debater política. Ser delegado democrata não é só ir ver os discursos à noite, cautelosamente planejados, pelos dois partidos, para encher o palco de latinos e negros e indianos-americanos e mulheres e qualquer outra coisa que traga à cabeça a noção de ªdiversidadeº.

De novo, não estou falando de plataforma. Não estou falando de valores. Não estoy falando de slogans e mensagens de campanha — que, aliás, estão surpreendentemente parecidos neste ano. Estou falando só da experiência de estar nas duas convenções. Esta, sim, é de uma diferença gritante.

*

Visto em Charlotte: Wayne White, o ator que faz o Newman de “Seinfeld”. Sou fã.

Pegadinha: avisto Julián Castro, o jovem prefeito de San Antonio (Texas) que desponta como estrela do partido e fará o discurso principal da convenção (depois do de Obama). Coro para tentar falar com ele quando ele se desembaraça das câmeras de TV. A amiga que trabalha para a concorrência faz o mesmo. Quando emplacamos a pergunta, felizes com a atenção, o rapaz (ele tem quase 38 anos) devolve: “Mas eu sou o irmão gêmeo dele!”. É verdade. Castro tem um irmão, Joaquín, que concorre à Câmara e vai apresentá-lo nesta noite.

* Da vida de jornalista etc: achei que ia conseguir blogar loucamente e responder aos comentários enquanto estivesse na convenção. Mas tem sido impossível atualizar o blog com a frequência que eu gostaria. Peço desculpas.

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Depois do furacão

Por Luciana Coelho
29/08/12 17:49

A convenção republicana, vista de cima — o pessoal de chapeu é a delegação do Texas, que customizou suas jaquetas com a bandeira do Estado

TAMPA, FLÓRIDA – Em meio à chuva, ao vento e a uma enxurrada de factoides, Mitt Romney foi, após uma penosa jornada de 453 dias desde que anunciou que tentaria concorrer à Casa Branca, foi finalmente ungido candidato.

Agora, os republicanos se esforçam para manter a atenção da mídia americana, exigida pelo furacão Isaac, em sua convenção partidária.

O problema é que os discursos, até agora, não têm colaborado muito para isso. Comentaristas da direita e da esquerda têm classificado as apresentações, até agora, no máximo como mornas (sim, hoje eu ouvi Rush Limbaugh no rádio criticando o governador de Nova Jersey, Chris Christie, por pegar “leve” demais com Obama em sua fala).

Acho que Christie foi relativamente bem — embora a plataforma dele seja questionável em vários pontos. Ele obviamente tem mais carisma do que a média dos republicanos (na semana que vem a gente comenta os democratas, ok?).

Assistindo a todos os discursos da tarde e da noite de ontem ao vivo — foram nove horas de cadeira, pois é — dava para perceber que Christie era um dos poucos que não tinha um gestual ensaiado.

Ele é desbocado e ontem estava contido, é verdade. Mesmo assim, parecia dotado de uma naturalidade que falta nesta geração de republicanos.

Quem cumpriu bem seu papel foi Ann Romney — a parte mais calorosa do casal presidenciável. De voz trêmula, ela falou das qualidades de Mitt Romney como pai e marido. Não que eu as considere relevantes no exercício da Presidência, mas o discurso de Ann foi bonito de ouvir, e mostrou que por trás do homem de negócios bate um coraçãozinho (ao menos para ela).

Outro que animou a plateia, formada por representantes partidários de 50 Estados americanos e seis territórios, foi Scott Walker, o jovem e ultraconservador governador de Wisconsin que trava uma guerra com os sindicatos (até agora, ele vem vencendo mais batlahas).

A salva de palmas que ele recebeu ontem, em duas ocasiões — ao anunciar o voto da delegação de Wisconsin para Romney, durante a cerimônia oficial, e ao discursar — só é comparável à de Ann e Christie. Considerando que falaram mais de 20 pessoas, a marca é invejável.

E quem decepcionou? Ted Cruz, o egresso do Tea Party que venceu as primárias para disputar o Senado pelo Texas. Pensava que ele falasse melhor, com mais vivacidade, uma coisa meio Palin, meio Herman Cain (não estou avaliando o teor dos discursos deles, mas a capacidade de envolver a plateia).

Nada disso. Cruz parece recém-saído de um daqueles workshops “aprenda a falar em público”, com gestos marcados, frases pontuadas por um suposto timing cômico/dramático que dificilmente funciona.

Pode ser falta de experiência, a convenção é um evento gigantesco que pode intimidar (embora boa parte das cadeiras do tampa Bay Forum ontem estivesse vazia, como mostra a foto neste texto — possivelmente obra do furacão). De qualquer forma, é preciso melhorar.

As primeiras pesquisas indicam que o evento já está ajudando a melhorar a imagem de Romney (em anos anteriores, as convenções movimentaram pesquisas entre 2 e 16 pontos, graças à exposição do candidato. A questão é ver se esse efeito persiste.

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A praga republicana

Por Luciana Coelho
23/08/12 17:10

Todd Akin, para quem estupro não engravida, virou um risco para os republicanos

WASHINGTON – O Partido Republicano redobrou os esforços para convencer Todd Akin, o candidato a senador que caiu em desgraça após um comentário infeliz sobre estupro e gravidez, a abandonar a disputa. 

Cortou seus fundos, colocou Paul Ryan, o vice na chapa presidencial e que compartilha das mesmas opiniões de Akin sobre aborto (mas felizmente não sobre estupro), para lhe telefonar e demover da ideia, e Mitt Romney para refutar a ideia de que “estupro legítimo dificilmente engravida”. Ele se desculpou, mas resiste a renunciar.

 Uma parte disso obviamente é indignação (ser contra aborto é uma coisa, achar que mulher estuprado, se engravidou, é porque mereceu é outra bem diferente). Outra é cálculo político, e não sem razão.

A disputa no Senado este ano promete ser acirradíssima, e uma cadeira como a de Akin, que por ora lidera com pequena margem as pesquisas no conservador Estado do Missouri, pode acabar como fiel da balança.

Para não correr com um cavalo manco, o partido obviamente prefere que ele renuncie — mas isso tem que ser a tempo de anunciar outro em seu lugar, até o fim de setembro.

Outro problema é o voto feminino. Boa parte das pesquisas já indica que as mulheres preferem com alguma margem o presidente Barack Obama, e esse cenário frequentemente se reproduz nas disputas estaduais. Uma frase machista sobre estupro, ainda que dita por um único candidato e repudiada pelo partido, não ajuda a reverter esse quadro.

Os democratas enxergaram um flanco de ataque e já preparam a artilharia. Obama já vinha batendo na tecla dos direitos reprodutivos femininos, alardeando sua medida para a distribuição da pílula anticoncepcional e criticando a proposta republicana, em vigor em Estados como a Virginia, de forçar a mulher a ver o ultrassom de seu feto/bebê antes de abortar. Agora o cenário está posto, e a discussão sobre aborto, estupro etc conseguiu a proeza de ostracizar a economia por uns dias — mais um deserviço de Akin.

Ontem, a campanha disparou um email assinado por Sandra Fluke, a líder estudantil democrata que ficou nacionalmente conhecida ao defender o direito à pílula e ser chamada de “puta” por causa disso pelo radialista ultraconservador Rush Limbaugh, ressaltando a frase de Akin. O título era “estupro legítimo”. O texto fazia uma ligação entre as posições de Romney e Ryan com a de Akin. No blog da campanha, texto semelhante aventava a mesma ideia.

 Eu não compartilho da opinião de Romney sobre aborto (que é igual à da legislação brasileira, validar somente em casos de estupro, incesto e risco de morte da mãe), muito menos da de Ryan (só em risco de morte). Mas me parece injusto equiparar a posição dos dois à frase ofensiva e degradante de Akin, que para justificar sua oposição ao aborto no caso de estupro disse que “o corpo da mulher tem meios de evitar a gravidez em caso de estupro legítimo”.

De qualquer forma, imbecis como Akin mereciam nunca mais serem eleitos. Sua continuidade na campanha só vai prejudicar os republicanos, no meio do vale-tudo político. A propósito: o Centro Pew pela Excelência no Jornalismo divulgou nesta quinta um estudo segundo o qual esta é a campanha mais negativa para os dois partidos em todos os tempos, exceto pela de 2004 (que eu também cobri, e foi uma baixaria só, aliás).

O partido mandou Akin ficar fora da convenção republicana, que começa segunda, e ele disse que vai obedecer. A ver. Os prognósticos para o evento já não andam dos melhores, com riscos de um furacão tropical passar por Tampa bem no meio da convenção. O furacão Akin, porém, parece já ter deixado um estrago inestimável.

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Estupro engravida

Por Luciana Coelho
20/08/12 21:12

WASHINGTON – A convenção republicana começa na segunda que vem, e o partido estava numa boa onda com a nomeação de Paul Ryan dominando o noticiário e ditando um ciclo de cobertura (apesar de todas as críticas ao plano orçamentário do deputado/candidato a vice).

No domingo, porém, o baixo clero republicano resolveu meter os pés pelas mãos (ou, como diz a expressão em inglês, o pé na boca).

Todd Akin, um candidato ao Senado pelo Estado do Missouri, disse em uma entrevista ao canal local da rede FoxNews que “estupros legítimos raramente levam à gravidez”. A pergunta do entrevistador, que falava de aborto, era se a interrupção da gravidez deveria ser aceita em casos de vítimas de violação sexual.

Akin saiu com essa resposta estapafúrdia que (1) divulga uma informação médica errada, como se o corpo da mulher tivesse algum poder de, sozinho, evitar uma gravidez e (2) condena as vítimas de estupro que engravidam — o que Akin quis dizer? Que se a mulher engravidou num estupro ela gostou, e por isso não foi tão estupro assim?

Tanto engravida que em muitas guerras é usado até como arma, em um requinte de crueldade e humilhação final da faxina étnica.

Cada um tem sua posição sobre o aborto, ok, e ele poderia defender a deçe sem baixar o nível (um argumento comum de quem é contra aborto em casos de estupro é o de que o estuprador, e não a criança, deve ser punido). Jogar a culpa para cima da mulher quando ela é vítima de violência é de uma covardia e uma mediocridade inomináveis.

Os próprios republicanos se revoltaram com o candidato, pressionando-o a abandonar a disputa e ameaçando-lhe cortar o financiamento. Ele não aceitou. Pediu desculpas pelas declarações, mas diz que continua no páreo. Por ora, Akin lidera. Mas não com grande margem. Uma declaração assim pode virar o jogo, e até, segundo alguns analistas, enterrarem a chance republicana de dominar o Senado (embora ela seja menor do que a de controlar a Câmara).

O noticiário também não foi favorável para os representantes (deputados) republicanos novatos. O site especializado “Politico” revelou na noite de domingo que um grupo deles, acompanhado de assessores, se jogou no mar da Galileia após uma noite de excessos alcoólicos, durante uma visita a Israel no ano passado.

É um local sagrado para judeus e cristãos, e o mergulho — alguns chegaram a tirar peças de roupas, e um dos congressistas se despiu totalmente — foi considerado ofensivo. Os deputados estavam ali a trabalho, em viagem paga, e não em férias.

Claro que esse tipo de gafe não é monopólio republicano, nem americano. Mas a cena da Galileia levou a própria cúpula do partido a se perguntar que tipo de instrução os novatos estão recebendo, e o que decoro parlamentar significa para eles.

Ao ser indagada na CNN sobre o assunto e também sobre políticos democratas que cometeram gafes semelhantes (semelhantes à da Galileia, porque a do estupro não é uma mera gafe) — como o deputado que andou enviando fotos pelado para mulheres que não pediram –, a estrategista democrata Donna Brazile simplesmente perguntou: “Você viu o índice de aprovação do Congresso em geral? Tem uma razão para isso.”

No último dia 14, o Gallup registrou o pior índice de todos os tempos: 10%.

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O peso de Paul

Por Luciana Coelho
15/08/12 17:49

Mitt & Paul, amigos para sempre (foto: Reuters)

WASHINGTON – Uma pesquisa do Gallup nesta semana para o jornal “USA Today” mostrou que 42% dos americanos acham que Paul Ryan é uma escolha “meia-boca” como vice de Mitt Romney na chapa republicana deste ano, enquanto outros 39% acharam ótimo.

Dada a divisão partidária no país, esse resultado não diz muita coisa. O que me chamou a atenção na pesquisa foi a capacidade de mobilização de Ryan: 36% dos eleitores republicanos disseram ao Gallup que se sentem mais inclinados a votar em Romney por conta do novo vice. Com Sarah Palin, em 2008, foram 30%.

O que mais? Por outro lado, o “USA Today” lembra que menos da metade dos americanos (48%) acham o deputado de Wisconsin qualificado para ser presidente, caso algo ocorra com Romney — é o pior resultado tirando Palin e Dan Quayle. Divisões partidárias à parte, tanto Romney quanto o presidente Barack Obama vão bem nesse quesito.

Por que, então, Romney escolheu Ryan? Todos os relatos indicam que o nome do vice foi uma escolha essencialmente do candidato, ao contrário do que ocorreu da última vez. Ele não era a opção preferida de seus assessores, e tampouco é um nome difícil de atacar para os democratas. É mesmo?

A resposta em que pensei tinha até me animado: Ryan, concorde-se com ele ou não, é capaz de dar substância ao debate sobre orçamento e cortes. Ele apresentaria seu projeto, os republicanos argumentariam a favor, e os democratas argumentariam contra, expondo ambos os lados sua plataforma.

Mas não foi o que aconteceu. Passados cinco dias do anúncio, a campanha continua centrada nas baixarias e trocas de acusações.

Romney, nesta quarta, acusou Obama de lançar uma “campanha de ódio”, enquanto o lado de Obama continua acusando os republicanos de promoverem uma “campanha nojenta”. E dá-lhe imagens assustadoras de ambos os lados, pouco apoiadas em fatos reais.

Se não era para acrescentar dimensão ao debate, então, eu me pergunto: estariam os republicanos justamente talhando Ryan para uma candidatura bem sucedida à Presidência no futuro?

O estatístico Nate Silver, do “New York Times”, fez uma análise a respeito (não política, numérica) e concluiu que se Romney ganhar ou perder por pouco Ryan teria boas chances no futuro (sim, por que não dá para ter Romney DE NOVO se ele perder, certo?). O próprio candidato, em um lapso ou ato falho, chegou a apresentar seu parceiro de chapa como “o próximo presidente”.

Enquanto isso, ainda temos uma campanha pela frente, as convenções partidárias vêm aí, e esperemos os dois lados acrescentarem algum conteúdo ao debate que vá além das frases de efeito e do debate genérico Estado grande X Estado pequeno. Em tempos de crise e disparidades crescentes, a discussão merece bem mais nuances do que isso.

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Paul Ryan, 94% de chance?

Por Luciana Coelho
11/08/12 01:37

No sentido horário, a partir de cima, Ryan, Portman, Rubio e Pawlenty: quem vai ficar com Mitt? (fotos: Reuters)

WASHINGTON – O republicano Mitt Romney sucumbiu à pressão dos últimos dias e antecipou para este sábado, às 10h05 no horário de Brasília, o anúncio de seu vice na chapa à Casa Branca.

O evento, inicialmente programado para a próxima semana para não disputar atenção com os Jogos Olímpicos de Londres, ocorrerá em Norfolk, sul do disputado Estado da Virgínia, onde o presidente Barack Obama fez campanha no último dia 2.

Na última semana, aumentou a pressão tanto da intelligentsia republicana quanto das alas mais à direita do partido pelo nome do deputado Paul Ryan, de Wisconsin. Presidente da comissão de orçamento da Câmara, ele é o autor da contraproposta de orçamento da oposição.

Na noite desta sexta, a cotação de Ryan disparou no site de apostas políticas online Intrade, indicando chances de 94%, após dias atrás de seus rivais.

Ryan, 42, conseguiria agradar tanto a ala mais radical quanto a mais centrista do partido, além de se dar bem com Romney. Visto como estrela em ascensão, foi ele que deu a resposta republicana ao discurso sobre o Estado da União do presidente no ano passado.

O nome do deputado ganhou pontos nos últimos dias, embora desde o início do processo, em maio, ele fosse visto como finalista.

Outros no páreo final são o senador por Ohio Rob Portman, 56, e o do ex-governador de Minnesotta Tom Pawlenty, 51.

Portman, considerado por analistas ouvidos pela Folha como uma multiplicação das qualidades e defeitos do candidato republicano (“seria chuchu demais na chapa”, disse o comentarista conservador Michael Barone), tem bom trânsito no Congresso, afinidade com o titular e vindo de um Estado decisivo.

Já Pawlenty viu suas chances minguarem nos últimos dias, e para o estatístico do “New York Times” Nate Silver, poderia perder pontos eleitorais pela aprovação ambígua em seu Estado. Por outro lado, Pawlenty foi o primeiro pré-candidato republicano a desistir e apoiar Romney. Suas raízes operárias evangélicas também o ajudariam com duas fatias do eleitorado conservador em que Romney, milionário e mórmon, ainda tem dificuldades de indentificação.

O quarto nome na lista principal é o do senador pela Flórida Marco Rubio, um filho de cubanos americanos de 41 anos bonitão e articulado que apela à cobiçada comunidade latina, tida por muitos como decisiva neste pleito.

Rubio, porém, é menos experiente que seus concorrentes — o que representa para o partido um risco de repetir o episódio Sarah Palin. Além disso, segundo Barone, o senador teve problemas de prestação de contas durante sua gestão no Legislativo estadual.

Correm por fora o governador da Lousiana Bobby Jindall, um descendente de indianos também jovem, carismático e apoiador de Romney de primeira hora, e que tende para a linha do conservadorismo compassivo que agrada aos centristas e independentes; o governador de Nova Jersey Chris Christie, carismático e linha-dura; a senadora por New Hampshire Kelly Ayotte — por ser mulher e ter alta aprovação — e o senador ultraconservador por Dakota do Sul John Thune, além do próprio governador da Virginia, Bob McDonnell.

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Ryan na chapa?

Por Luciana Coelho
09/08/12 17:13

WASHINGTON – Mais adendos ao post de ontem, abaixo. O “Wall Street Journal” defendeu o nome de Paul Ryan. E o “New York Times” notou também, embora eles se abstenham de apostas.

É no mínimo curioso ver tanto barulho em cima do nome do vice. Alguém, afinal, sabe o que Joe Biden fez nos últimos meses? Ou Bush pai, quando era vice de Reagan? Ou AL Gore, pré-fama E pré-ambientalismo, de quem tudo que lembramos nessa fase é a fantasia de Fera, ao lado da mulher, Tipper, como Bela? E o vice de Bush pai, quem era mesmo? (era Dan Quayle).

Sim, havia Cheney, o Sinistro, mas nada me leva a crer que em um eventual gabinete Romney ele se deixe embalar por seu vice como Bush filho se deixou pelo seu.

A verdade é que, salvo um acidente com o presidente, o nome do vice só importa nessa hora: na cédula. E isso para 3 em cada 4 americanos, segundo pesquisas, embora apenas 1 em cada 4 se importe muito com isso.

Ah, sim, o vice é o presidente do Senado, chamado na eventualidade de um voto de Minerva. Mas isso é tão raro que não dá exatamente para chamar de “função”. A série “Veep”, da HBO, que traz a incrível Julia Louis-Dreyfus como uma vice ambiciosa e ignorada, que preenche seus dias com discussões com a filha e o namorado secreto, pitos nos funcionários aparvalhados e visitas à sorveteria, além da eterna espera por uma ligação presidencial que nunca vem, é perfeita. 

Por outro lado, Ryan — ou Rubio, ou Rob Portman, ou Tïm Pawlenty — estará a um passinho do Salão Oval. Ou a uma batida de coração, como se diz por aqui.

Mas disso poucos parecem se lembrar. O que conta é o momento Oscar, que a oposição tenta capitalizar agora. Aproveite o momento, Mr. Ryan.

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