DE NOVA YORK – O Instituto Gallup acaba de divulgar pesquisa mostrando que Obama está perdendo apoio da classe média branca. Em outubro/novembro de 2008, o democrata tinha 51% dos votos de quem é branco, não hispânico e ganha menos de US$ 24 mil ao ano. O percentual caiu para 42% em maio/junho deste ano.
A migração dos votos dessa parcela da população dos democratas para os republicanos não é um processo iniciado agora. Também aconteceu com Al Gore e John Kerry.
No final de maio, o cientista social Francis Fukuyama (lembram do discurso sobre o fim da história nos anos 1990?) participou de um chat no site “The Daily Beast” dizendo que “a esquerda nos EUA não irá a nenhum lugar enquanto não se conectar com a classe trabalhadora branca”. Até lá, não terá nenhum poder, disse o escritor, que argumenta que o “Ocupe Wall Street” não conseguiu fazer a ponte com esse eleitorado. Para ele, o Tea Party foi mais bem-sucedido.
DE NOVA YORK – A Comissão Federal de Eleição dos EUA aprovou o uso de mensagens de texto para arrecadar recursos para a campanha. O candidato agora pode mandar um sms para o celular do eleitor, que responde a mensagem concordando com a doação de pequenas quantias. O valor máximo permitido é US$ 50.
A nova ferramenta de arrecadação foi aprovada ontem, e ontem mesmo a Tatango, empresa que faz marketing pelo celular, divulgou as imagens acima, com exemplos de mensagens que os doadores poderiam receber. A companhia não explica se o eleitor seria cobrado na conta de celular ou se acessaria um link para digitar o número do cartão de crédito. Analistas políticos afirmam que o mais provável é que os candidatos acabem adotando o modelo que vem sendo usado pelas organizações que promovem caridade, de propor pequenas quantias (US$ 5 ou US$ 10) que são cobradas na conta do celular.
Liguei para a campanha do Obama para perguntar como poderia receber o sms e doar para o democrata. A pessoa que me atendeu disse que nem sabia que isso já era possível. Quis contactar a campanha de Romney também, mas só é possível tirar dúvidas sobre doações por formulário no site, e eu tinha pressa para escrever o post.
DE NOVA YORK – O post está um pouco atrasado, mas reproduzo vídeo que acabei de assistir da TV Bloomberg, veiculado no final de abril, em que Paul Krugman e Ron Paul debatem suas visões sobre economia. Parece a versão vida real de um vídeo há anos famoso no YouTube que mostra Keynes e Hayek discutindo enquanto cantam rap.
Traduzo um trecho da argumentação de Ron Paul:
“Eu não quero o governo ou o Banco Central fixando a taxa de juros – que é uma fixação de preços. Controles de salários e preços nunca funcionam, assim como não funciona fixar o preço do custo do dinheiro. Essa ideia de que alguém ou algum grupo poderia saber o que é uma boa quantidade de dinheiro ou qual é a taxa de juros adequada é uma espécie de presunção. Eu não sei onde se obtêm esse conhecimento. Hayek chamou isso de pretensão de conhecimento. Eles fingem que sabem, mas eles realmente não sabem. Quando falamos sobre a eleição de um presidente ou de um membro do Congresso para melhorar a economia, perdemos todo o sentido. Os governos não devem gerir a economia, o povo é que deve gerir.”
DE NOVA YORK – Em coletiva de imprensa na sexta-feira, o presidente Obama disse que ‘o setor privado nos EUA está indo bem”. A declaração provocou a ira dos republicanos, e o presidente logo depois teve que voltar atrás, dizendo que “é absolutamente claro que a economia não está bem”.
Hoje uma outra voz criticou a declaração do presidente. O economista Paul Krugman disse que o presidente falou bobagem.
“Foi uma frase infeliz. A verdade é que o setor privado está indo melhor que o setor público, mas isso não é bom o suficiente.”
DE NOVA YORK – Em 2008, Mitt Romney pagou US$ 12 milhões pela casa acima, de 900 metros quadrados, em La Jolla, Califórnia. Desde então, se vê às voltas com a autorização oficial para reformar a casa, que já foi ocupada pelo ator Richard Gere.
A reforma preocupa os vizinhos, segundo os jornais “New York Times” e “Los Angeles Times”. Alguns temem que praia seja fechada caso o republicano seja eleito. Mas outros querem mesmo é encontrar o político famoso pelas ruas do bairro.
O lugar tem 7.764 republicanos registrados e 7.024 eleitores democratas.
O NYT afirma que na vizinhança de Romney há seis domicílios com casais gays. Entre os que estão loucos para esbarrar no candidato está o contador Randy Clark, que disse ao jornal que quando isso acontecer dirá ao republicano que seu relacionamento com o companheiro Tom Maddox merece os mesmos direitos do casamento entre Ann e Romney.
DE NOVA YORK– Um dos assuntos mais quentes desta semana é a descriminalização da posse de pequenas quantidades de maconha. O governador democrata Andrew Cuomo apresentou a proposta, que foi endossada pelo prefeito de Nova York, Michael Bloomberg (ex-republicano e agora independente).
O legislativo estadual _de maioria republicana_ não gostou da ideia. A lei atual já considera apenas infração quando alguém é flagrado pela política carregando menos de 25 gramas de maconha. A proposta de Cuomo é transformar a situação em delito, o que segundo os republicanos implica aceitar a posse de pequenas quantidades da droga.
Por trás da proposta do governador, está a pressão de ativistas e grupos comunitários, que dizem que a Polícia de Nova York nos últimos anos intensificou abordagens aleatórias a jovens na cidade e que isso ocasiona prisões desnecessárias. Cornel West, professor de Princeton, que me deu entrevista há alguns meses, argumenta que as revistas incidem desproporcionalmente sobre negros. Em outubro do ano passado, West liderou protesto no Harlem contra a polícia.
O governador Scott Walker, confirmado no cargo terça com margem de quase 10 pontos percentuais nas urnas (Reuters)
WASHINGTON – A vitória do governador republicano de Wisconsin Scott Walker na eleição de “recall” de seu mandato nesta semana foi provavelmente a pior derrota imposta pelos republicanos ao presidente Barack Obama.
Sim, pior do que perder o Congresso em 2010, algo que pode ser parcialmente atribuído à rejeição aos ocupantes das cadeiras pelo eleitorados no meio da crise econômica.
Desta vez, não. Os democratas — assim como os republicanos — injetaram um volume anormal de recursos, financeiros e humanos, na eleição no Estado do norte do país. Por mais que a campanha obamista tenha tentado minimizar a perda, o custo foi alto, inclusive para novembro.
A história que Wisconsin conta é que talvez seja hora de repensar o movimento trabalhista no país, o grande mote da campanha. Walker, que proibiu a barganha coletiva para os funcionários públicos, sai como heroi do movimento antissindical que ganhou força nos últimos anos e já converteu 23 Estados em Estados com “direito-ao-trabalho” — onde a sindicalização é, dependendo do caso em questão, limitada ou mesmo coibida.
Após seu auge nos anos 50 e 60, os sindicatos começaram a perder força (o que deu margem para uma flexibilização extrema do mercado de trabalho e, para historiadores como o harvardiano Alex Keyssar, alimentou a desigualdade e a pobreza crescentes no país). Para os críticos, porém, essas instituições ainda fazem alguns setores (como a educação) reféns de um sistema retrógrado e limitador.
É difícil dizer que qualquer um dos lados esteja totalmente errado, mas o que impressiona na história de Wisconsin é a perda de força de mobilização dos sindicalistas, que participaram ativamente da campanha anti-Walker.
Esse mesmo movimento tem sido, no último século e pouco, um dos vértices da base partidária democrata e da própria politização do país, com campanhas ativas para tirar gente de casa para votar (nos EUA, o voto não é obrigatório). Em pesquisas políticas nos EUA, é comum, por exemplo, a distinção “union households”, ou “lares sindicalizados”.
O desfecho desta semana, porém, indica que isso pode ser pouco em novembro — justamente quando “trabalho” é, como há décadas não se via, o tema central da campanha.
Na melhor das hipóteses, para os pró-sindicato, é preciso repensar táticas e melhorar as relações públicas. Na pior, ou para os antissindicatos, é necessário rever a razão de ser dessas entidades. De um jeito ou de outro, há ruído na mensagem.
Muros na fronteira com o México no Novo México, Arizona e Califórnia, respectivamente
DENOVA YORK – No ano passado, Obama anunciou que o país revisaria a política de deportação do país para priorizar os casos de imigrantes que haviam cometido crimes nos EUA. A iniciativa foi interpretada como um afago no eleitorado latino-americano pouco antes da eleição. A edição de hoje do “New York Times” mostra que a promessa não foi cumprida.
Segundo o jornal, desde o anúncio do presidente só 2% dos 411 mil casos de deportações foram revistos e concluídos. O governo americano afirma que o atraso ocorre por conta de processos burocráticos _por exemplo, a checagem da ficha criminal dos estrangeiros.
Desde os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2011, os EUA progressivamente endureceram o cerco aos imigrantes ilegais. Em 2011, as deportações atingiram o pico da série histórica, iniciada no ano dos atentados.
O ICE (U.S. Immigration and Customs Enforcement) afirma que a maioria dos deportados em 2011 (54,6%) havia sido condenada por algum crime no país. O dado é controverso _a maioria dos crimes foi dirigir alcolizado ou “crimes relacionados a drogas” (como o termo é vago, entende-se que possa abranger tanto consumo de maconha quanto tráfico).
DE NOVA YORK – O prefeito Michael Bloomberg lançou proposta para limitar a venda de bebidas açucaradas em Nova York. A ideia é proibir a venda de embalagens que contenham mais de meio litro de refrigerante, suco industrializado e outros tipos de bebidas calóricas.
Lembro que aqui nos EUA meio litro pode ser a quantidade que você recebe ao pedir a menor embalagem disponível em algumas redes de fast-food.
A ideia provoca polêmica. Bloomberg, que já foi republicano e agora é independente, é acusado de desrespeitar a liberdade individual e adotar atitude policialesca. Esse é o argumento do McDonalds, que publicou no Twitter uma alfinetada (veja abaixo) e do Centro para a Liberdade do Consumidor, que faz campanha chamando o prefeito de Nanny Bloomberg (Babá Bloomberg).
A imagem fez a festa dos cartunistas.
Bloomberg brincou que as imagens não são muito lisonjeiras, mas disse que está satisfeito que a cidade esteja discutindo o problema da obesidade e das porções excessivas servidas nos EUA.
Bill Clinton defendeu a proposta de limitar o tamanho das bebidas:
“Eu acho que ele está fazendo a coisa certa. A diabetes tipo 2 está acometendo crianças de nove anos e a geração pós-guerra, que está se aposentando. Eu sei que muita gente diz que esse é um Estado que está querendo se prestar ao papel de babá, mas acho que é um problema sério […]. Se você quer ser livrar dessas porções gigantes, cheias de açúcar, e fazer com que as pessoas bebam quantidades menores, vou ajudar.”
WASHINGTON – George W. Bush e Laura voltaram nesta quinta à Casa Branca, onde foram recebidos pelo casal Obama e inauguraram seus retratos oficiais, uma tradição da Presidência americana.
O discurso espirituoso do ex-presidente (sério, é muito engraçado) leva a crer que o período de ostracismo que o próprio republicano se impôs, após sair do governo com a popularidade por volta dos 20% e servir como principal cabo eleitoral involuntário de Obama, chegou ao fim.
Bush está leve e à vontade, de uma maneira que não aparecia publicamente havia anos, incluídos os últimos de sua desastrosa Presidência.
Olhando em retrospecto, fiquei pensando que as coisas no Partido Republicano se tornaram tão soturnas nos últimos dois anos que, por comparação, a imagem de Bush melhorou. (Ok, os mais críticos ao Obama dirão que o problema é o presidente, mas eu AINDA acho que Obama é um presidente muito menos incompetente do que Bush.)
Perto de muitos de seus correligionários, Bush filho virou praticamente um moderado. A sua linha, o conservadorismo compassivo, não sobreviveria no cenário atual.
Aí me lembrei do cientista político Joseph Nye, um dos mais respeitados dos EUA e um sujeito bastante centrista, dizendo que se as coisas no Iraque não voltassem ao caos, todo o período presidencial de Bush pai a Obama entraria para a história como uma coisa monolítica, sem maiores benesses para o país.
Não sei até hoje se concordo, e Nye disse isso antes da posse do novo Congresso, em 2011, quando houve uma radicalização. Mas certamente é algo para se pensar.
Como também é algo a se pensar se, depois de sua boa performance de palco no evento, ele subirá ou não no palanque de Mitt Romney nesta campanha. Bush, afinal, ainda é uma presença tóxica?
Independentemente da posição política do leitor, convido todos a assistirem ao surpreendentemente divertido vídeo do ex-presidente.
(Uma das melhores partes é quando ele diz que seu retrato dá simetria às imagens presidenciais na Casa Branca. “Agora elas começam e terminam com um George W.”, diz, referindo-se a George Washington. “Quando falarem dos quadros, terão de dizer ‘o primeiro George W.” É um raro lampejo de autohumor de quem sabe que sua figura não entrou para a história sob uma luz tão positiva.
E a outra, em um aceno à mulher, chamando-a de “melhor primeira-dama de todos os tempos”. Ao olhar para a mãe, que ocupara a residência oficial oito anos antes de Laura, George W. emenda: “Mãe, você aceitaria um empate?”)